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Conversando com o presidente  do Instituto Cultural Filarmônica Diomar Silveira

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Nossa conversa hoje é com Diomar Silveira,Diretor Presidente do Instituto Cultural Filarmônica,da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais,que está na cidade para a reunião da Associação Brasileira de Orquestra,ABRO dentro de evento na Cidade das Artes. Vamos conhecer mais o pensamento de um gestor moderno que tem sucesso. 

Hoje começa no Rio de Janeiro um Seminário sobre o setor orquestral no  Brasil  na 2ª Conferência  Internacional Multiorquestra cuja primeira edição foi realizada em Belo Horizonte. Como Diretor-Presidente de uma das mais importantes e prestigiadas orquestras brasileiras,a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, com capacidade imensa de  gerenciar brasileiros,demonstra sobretudo que tem gestores de alto nível no país,como você vê a realidade no setor na atualidade? 

Vejo com otimismo devido aos avanços, as conquistas e a mobilização que existe na atualidade por parte de pessoas profundamente envolvidas e interessadas no desenvolvimento do setor. Em  termos de avanços cito a questão do modelo de gestão através de organizações sociais cujo melhor exemplo é, sem dúvida, a OSESP. A Filarmônica vem no rastro deste grande sucesso da OSESP e tem servido, por sua vez, de inspiração para outras orquestras como a Filarmônica de Goiás. O Tom Jobim em São Paulo e o projeto Neojibá na Bahia são ótimos exemplos de orquestras juvenis geridas por organizações sociais. São conquistas importantes deste modelo de contratualização, ou seja de gestão pública não estatal contrastando com o tradicional modelo das orquestras brasileiras geridas diretamente pelo poder público, em geral, as secretarias de cultura dos Estados. Tudo isto tem suscitado grandes debates e levado a uma mobilização por parte de lideranças interessadas em discutir modelos de gestão, participação, democratização do acesso, educação musical, formação de músicos, formação de público, difusão da música clássica, etc. Exemplo disto é a iniciativa do British Council em promover a segunda edição do Seminário Multiorquestras. Assim fazendo, tem sido um facilitar para o encontro entre nós brasileiros levando, inclusive à formação, já em estágio avançado, da Associação Brasileira de Orquestras (ABRO). Vale, entretanto, ressaltar que, apesar de otimista, vejo também com preocupação pois ainda há muito ceticismo sobre a capacidade de sustentabilidade deste novo modelo, existe  uma certa tensão e polarização no debate sobre a produção da excelência nas tradicionais orquestras estatais e nas orquestras geridas por este novo modelo de gestão. Além disto noto um certo distanciamento do Estado brasileiro em promover e se envolver com a discussão sobre políticas públicas voltadas às orquestras e à  música de concerto. 

O Estado de Minas Gerais vem se destacando ainda mais no cenário brasileiro e festeja esse ano a inauguração da Sala Minas Gerais da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais,cujo regente titular e diretor musical é um brasileiro,muito talentoso,o maestro Fábio Mechetti. Definitivamente Belo Horizonte hoje é um pólo cultural super importante. Gostaríamos de saber um pouoc mais dos projetos. 

Realmente Belo Horizonte é hoje um pólo cultural importante e isto graças tanto ao grande empreendedorismo dos atores e produtores culturais locais como também da ação dos governos passados que deram muito apoio e investiram no setor cultural. Grupos de dança como o grupo Corpo, de teatro como o Galpão ou o Giramundo se tornaram importantes referências na vida cultural brasileira. Inhotim com sua proposta de museu de arte contemporânea a céu aberto, com seus belíssimos jardins e projetos de educação ambiental tem sido uma referência no Brasil e no mundo. A Filarmônica, em apenas 7 anos de trabalho, também conseguiu colocar o nome de Minas no eixo da música de concerto e isto devido tanto a excelência da direção artística feita pelo maestro Fábio Mechetti como pela gestão através de uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, o Instituto Cultural Filarmônica que tenho a honra e a alegria de administrar. A Sala Minas Gerais, realizada graças à sensibilidade e enorme entusiasmo do anterior governador Antônio Anastasia, é a grande conquista para os músicos, para os belohorizontinos, os mineiros e os brasileiros. É uma sala construída com todos os requisitos de um projeto acústico e isto se deve ao zelo do arquiteto José Nepomuceno e sua equipe. O talento local dos arquitetos Jô Vasconcelos e Rafael Yanni proporcionaram a execução de uma bela arquitetura da sala, construída em apenas dois anos a um custo muito baixo, R$ 180 milhões, quando comparado à salas similares construídas recentemente em outras partes do mundo. A Sala Minas Gerais, sede da Orquestra Filarmônica de Minas Gerasi, faz parte de um conjunto cultural mais amplo, o Centro Cultural Presidente Itamar Franco, que abrigará as sedes da rádio e televisão estatais (a Radio Inconfidência e a Rede Minas de Televisão), ainda em construção e que, esperamos, seja concluída pelo nova governo até o fim do ano. 

Como você vê o futuro das orquestras hoje no Brasil? 

O futuro é promissor porque as pessoas estão ávidas por educação, cultura, saúde, serviços públicos de qualidade. A Filarmônica mostra que havia uma demanda reprimida por consumir música clássica de qualidade em Belo Horizonte. O público tem abraçado o projeto de uma maneira que nos deixa emocionados. Os já tradicionais ouvintes da música clássica que viajavam para o Rio, São Paulo e o exterior para assistir concertos de qualidade já não o fazem mais pela excelente programação ofertada pela Filarmônica. Os novos ouvintes vão crescendo dia a dia: gente de todas as idades e de todos os extratos sócio econômicos. Os preconceitos em relação a música clássica (para a elite, sofisticada) vão cedendo lugar ao encantamento quando ela é levada até as pessoas, quando o acesso é facilitado, quando têm a oportunidade de quebrar tabus e entrarem nas salas de concerto. Há muito o que se fazer, muito  mesmo pois estamos muito aquém do que poderemos ser quando vemos a realidade das orquestras e da música clássica nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento como a China. Justamente porque temos tanto a fazer é que vejo um melhor futuro para as orquestras no Brasil pois, de desafios vivemos e se pudermos juntar forças e contarmos com a boa vontade dos governos, das entidades públicas e privadas, teremos um Brasil ainda mais musical do que já é, feliz por aqui se produzir e se ouvir a música universal. 

Muito obrigada pela conversa,Diomar Silveira.