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Belo Horizonte tem nova Sala de Concertos

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A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais já tem casa nova, com a abertura oficial no último dia 27, às 20h30, da Sala Minas Gerais, em Belo Horizonte, em concerto com regência do maestro Fabio Mechetti, apresentando a Sinfonia nº 2 em Dó Menor, a “Ressurreição”, de Gustav Mahler, e o Hino Nacional Brasileiro, de Francisco Manuel da Silva. No palco, o Coral Lírico de Minas Gerais, o Coral da OSESP, a soprano Edna D’Oliveira e a mezzo-soprano Edinéia de Oliveira.

A Sala está localizada no Centro de Cultura Presidente Itamar Franco, e começou a ser projetada em 2013 e desenvolvida em duas fases.

A primeira delas foi coordenada pelo arquiteto José Augusto Nepomuceno e formada por profissionais de referência mundial em acústica, a exemplo dos norte-americanos Christopher Blair, Paul Scarbrough e Anthony Nittoli, e do brasileiro Júlio Gaspar – responsáveis pela concepção arquitetônica e acústica do espaço musical e de escuta sensível. Após os oito meses de estudo conceitual, envolvendo programa espacial e volumetrias básicas, e a partir de então, a estrutura arquitetônica externa da Sala foi desenvolvida pelos arquitetos Jô Vasconcellos e Rafael Yanni, assim como a consolidação do complexo cultural,o que inclui a organização dos espaços e dimensionamentos.

Ao contrário de muitas concepções de acústica, que se adaptam a partir da arquitetura já existente, na Sala Minas Gerais o processo foi inverso. Nela, a arquitetura e a acústica são um único partido de projeto. “Se não fosse assim, seria quase como chamar o luthier para definir apenas o verniz do instrumento”, acrescenta Nepomuceno. Para chegar à acústica ideal, foram consideradas questões como o dimensionamento da área do palco para acomodar a Orquestra – o que não é limitado à área ocupada pelos músicos sentados, mas pelo espaço acústico que os envolve.

Na verdade, a plateia envolve o palco e por essa razão, claro, foi necessário o planejamento e a avaliação de temas altamente importantes como acústica, visibilidade, envolvimento, percepção espacial, luz. Para atingir o desejado, foram realizadas simulações na Inglaterra por Michel Barron, considerado um dos maiores pesquisadores sobre comportamento acústico em salas de concertos no planeta, uma vez que são identificados erros e acertos em países como Estados Unidos, Noruega,Japão, Alemanha e Inglaterra.

A forma da Sala é belíssima e o projeto tem características de célebres salas de concertos em forma de “caixa de sapatos”, como a Boston Symphony Hall, a Musikverein de Viena, a Sala São Paulo, e em terraços ou surround, como a Philarmonie, mas a Sala Minas Gerais é única em seu desenho final.

O próprio coordenador do projeto, José Augusto Nepomuceno afirma: “Esse projeto nasceu de um desejo de traduzir, na arquitetura, a vitalidade e a expressão da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Não queríamos uma solução congelada, conhecida, repetida ou até mesmo banalizada”.

Com uma tecnologia de ponta visando o conforto, a objetividade e a qualidade acústica, o local tem sobre o palco um difusor acústico móvel, com motores projetados e fabricados na Áustria, de cerca de 21 toneladas, que pode variar a altura conforme os ajustes acústicos necessários. Um conjunto de motores de carga pontual, também produzidos naquele país europeu, foi instalado para que seja possível suspender varas, treliças, telas de projeção e outros elementos de apoio nas apresentações.

Mais tecnologia, desta vez, trazida dos Estados Unidos, local onde são encontrados os mais notáveis fabricantes para equipar as mais expressivas salas de concertos do mundo. São as bandeiras acústicas motorizadas, que servem para variar a absorção acústica do local,isto é, permanecem recolhidas acima do forro da sala quando não estão em uso.

O local tem vários foyers, ao todo três níveis de acesso à Sala, sendo um em cada nível, e cada um com café e toaletes. São 1.477 lugares para  o público, e a orquestra já tem uma sala de ensaios para o naipe de percussão e outras duas para os demais naipes, além de uma sala especial de pianos com climatização sofisticada, coisa rara. Para recepções, existe o Green Room, um salão onde poderão ser organizadas palestras antes dos concertos, explicando o programa, por exemplo, além de ser o lugar dos cumprimentos aos músicos após os concertos, coisa que o público em geral adora. A parte administrativa está localizada um andar abaixo do nível do palco, com área técnica, salas de controle e gravação, enfim, tudo que é necessário para a realização das temporadas.

No mesmo Centro de Cultura Presidente Itamar Franco será a sede da Rede Minas e da Rádio Inconfidência, com restaurante e área de convivência.

O diretor artístico e regente titular da Filarmônica de Minas Gerais, maestro Fábio Mechetti, diz que “a sala será a casa da Filarmônica e o centro de irradiação de música sinfônica de alta qualidade para toda a cidade, o estado e o Brasil". "Estamos muito animados e com a certeza de dar um salto artístico qualitativo importan­tíssimo para uma orquestra que, desde sua criação, há oito anos, tem a excelência como meta. A partir de agora, ensaiaremos e tocaremos no mesmo espa­ço, e, com isso, poderemos, finalmente, trabalhar articulação, balanço, equilíbrio etc.”, destaca o maestro, ao lembrar que apenas em circunstâncias acústicas adequadas é possível implementar técnicas de per­formance orquestral e mostrar toda a inten­sidade da Filarmônica.

O experiente secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo, afirma que “o governo de Minas Gerais se empenha em concluir as obras da grande sala de concertos e das sedes da Rede Minas e da Rádio Inconfidência. A sala está em condições de acolher a temporada 2015, que prenuncia um ano de apresentações admiráveis”. Já para o presidente da Codemig, Marco Antônio Castello Branco, “é com orgulho que vemos a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais iniciar a temporada 2015 em sua nova sede, a Sala Minas Gerais. Este é um dos mais modernos espaços de concertos do Brasil, comparável aos melhores exemplos do mundo. Projetada sob os mais rigorosos critérios acústicos e com ambientes adequados para ensaios e guarda de instrumentos, a Sala amplia a capacidade de atuação da Orquestra e de seus programas educativos que visam à formação de público. O espaço também será palco para outras grandes orquestras internacionais. Temos a certeza de que esse investimento da Codemig, ao projetar Minas no cenário mundial da música sinfônica, impulsionará a arte, a cultura, o turismo e o desenvolvimento de nosso estado”.

Para a informação dos leitores, o investimento na construção da Sala foi de R$ 179 milhões.

A coluna deseja vida longa ao mais novo espaço (e que espaço) de concertos do país. Todos estão de parabéns pela realização.