ASSINE
search button

Nem tudo é perfeito

Crítica: Concerto de reinauguração da Sala Cecília Meireles

Compartilhar

A Sala Cecília Meireles sempre foi considerada o templo da música de câmara no Brasil,tendo sua fase verdadeiramente dourada com os inesquecíveis Ciclos Bach, Haendel,Vivaldi,onde nomes como o Deller Consort, Karl Richter, Orquestra Bach de Munique, Jean-Pierre Rampal Aurèle Nicolet, Rostropovich entre tantos outros pisaram o palco da casa e ali brilharam. A prata da casa é lembrada através do nome do amado pianista Jacques Klein,que no mesmo palco brilhou e emocionou,na mesma época em que a  presença de ainda jovens pianistas,incluindo a colunista que vos fala, faziam o público delirar no auditório lotado da Sala para ouvir os concertos para 1,2,3 e 4 pianos de Bach. Pianíssimos sepulcrais e baixos poderosos sempre foram ouvidos com a maior perfeição acústica,isso é definitivo.

Chegando para o concerto de reinaguração da Sala Cecília Meireles,na última quinta-feira,com as presenças do simpático e competente Governador Luiz Fernando Pezão e a Primeira Dama Maria Lucia,um casal muito presente,da mesma forma o também muito simpático Prefeito Eduardo Paes, já podíamos enxergar da rua o lustre, realmente muito imponente, sendo o ponto principal de um foyer mais moderno, um lugar mais limpo visualmente,sem dúvida. Antes do concerto fomos ao banheiro,também bem mais moderno,melhor projetado,porém com a fila de muitas pessoas,a porta teve que ficar aberta,e acreditamos não ser a melhor visão para um foyer, uma vez que essa situação deverá acontecer muitas vêzes sobretudo nos intervalos dos concertos. Ainda na fila e já dentro do local ,observamos que tinham dois banheiros sem as portas,exatamente os dois últimos do lado direito,porque do lado esquerdo tem a pia e também outra porta que parecia ser outro banheiro. Confessamos que não achamos lugar para colocar nossa bolsa,sem falar dos vários papéis que encontramos no chão. Bom fizemos esse preâmbulo para entrar no Auditório e lembrar do passado que foi de glória! E a glória de faz no palco! O concerto/espetáculo foi mais uma realização impecável de André Heller e contou com a linda voz da talentosa mezzo-soprano Luisa Francesconi, do barítono Homero Velho e da pianista Priscila Bomfim. 

Foram executadas canções de compositores brasileiros com versos de Cecília Meireles,compositores aliás que estavam presentes na platéia,e a maior lástima é que não tenham sido identificados,isto é,cada obra e cada compositor. Após o término de cada execução os artistas recebiam os aplausos e naturalmente os compositores deveriam ter sido chamados sobretudo para receber os seus aplausos e ter seus rostos conhecidos pela platéia. Como sempre defendo os compositores! O público não é obrigado a conhecer tudo e imagino o questionamento “qual é o compositor que eu estou ouvindo” ? Um programa, mesmo com uma página, já resolveria o problema e os enigmas estariam todos descobertos. Nossas impressões do auditório e do palco. Entendemos que existam normas para atender os portadores de necessidades especiais,o que é altamente certo e digno do nosso maior respeito. É uma pena que dos 830 lugares tenham restado somente 680, mas os assentos ficaram melhor distribuídos. Agora as laterais das filas dos assentos têm que ter urgentemente a colocação de um tapete para evitar situações auditivas que nós presenciamos,mais de três vêzes,o que já é muito e definitivamente não combinam com uma sala de concertos,onde o silêncio é o objeto desejado, para possibilitar a melhor performance dos artistas e a melhor escuta do público. Pois bem,os artistas estavam no palco e pessoas saíam,e o terrível “toc-toc” de saltinhos e sapatos era uma constante. Isso sem dúvida deveria ter sido pensado,pois acontece,e ninguém está livre de estar na platéia e precisar ir ao banheiro,por exemplo. Tapetes devem ser colocados com urgência nas laterais junto aos murais. Tudo que gera barulho deve ser impedido dentro da sala de concertos. Concertos precisam de silêncio e de nenhum barulho como interferência.

Ainda bem que o painel branco do fundo foi preservado e deixado no lugar,porque sinceramente os novos painéis nas laterais do auditório somente deveriam ter sido colocados a partir das cadeiras até a porta de entrada do local. 

Não estamos criticando o painel de Ângelo Venosa,somente estamos pontualizando que deveria começar na platéia e não no palco,lugar sagrado para concentração,meditação e realização de uma execução,onde não se pode ter nenhum tipo de distração,mesmo por segundos vendo o trabalho executado nos painéis. Caberia sim no palco um painel liso,como aliás existem nas mais modernas salas de concertos do planeta,como por exemplo o Auditório Sony da Escola Superior de Música Reina Sofia em Madrid,da Sala de Câmara del Auditório Nacional de Madrid,todos na Espanha; da Sala Petrassi no maravilhoso Auditório da Música di Roma,na Itália,todo em madeira,com painéis laterais,mas o palco é preservado,e foi construído com o conceito de arquitetura musical,que consiste nos três elementos,arquitetura,acústica e tecnologia. Continuando com o palco da Sala de Música de Câmara da Filarmônica de Berlin,todos com palcos com painéis lisos. Podemos também citar os palcos de estilos mais tradicionais como o Carnegie Hall e do Weill Recital Hall que é a Sala de Música de Câmara do Carnegie Hall em Nova York e podemos terminar a citação com a deslumbrante Sala São Paulo,de madeira clara e imponente onde o melhor do modernismo se alia com a acústica perfeita.Chegando no ponto “acústica” a antiga acústica da Sala Cecília Meireles era aconchegante no som,aveludada,definitivamente nada seca,agora a sentimos pontiaguda, aberta e bem metálica. Naturalmente podemos assistir alguns concertos a mais para expressarmos o sentimento de que realmente a tão perfeita acústica não deveria nunca ser tocada,acústica que foi sempre tão reverenciada pelos grandes nomes que por ali passaram. Nossos ouvidos são de intérprete e de ouvinte,por isso são bem aguçados. E para finalizar sentimos falta de uma noite mais vibrante,faltou uma orquestra até mesmo para executar as obras dos mesmos compositores que não puderam receber seus aplausos e serem reconhecidos pelo público ao final de cada canção.

Desejamos vida longa ao templo da música de câmara do Rio de Janeiro.