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Ah Ruem Ahn, uma grande pianista

Crítica do recital da pianista no Palácio São Clemente - Série Música no Museu

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Imaginem véspera de eleição, campanhas por todos os lados,ruas com apitos e bandeiras e chega ao Rio de Janeiro a vencedora do Concurso Internacional de Piano de Santander Paloma O’Shea,a pianista coreana Ah Ruem Ahn,para um recital no meio de sua grande turnê de dezenas de concertos pelo mundo,patrocinada pelo Banco de Santander como prêmio maior.

Muito bonita parecia uma porcelana oriental,quando surgiu no palco do Palácio São Clemente no último sábado,com um vestido lindo de renda preta completamente alheia ao que se passava no resto da cidade.

Dentro da sala de concertos estavam sentadas 250 pessoas e mais de 50 infelizmente tiveram que ir embora,para desespero de Sergio da Costa e Silva,diretor da Série Música no Museu e da assessoria do Concurso no Brasil,que fazem a parceria há vários anos. A lotação estava mais do que esgotada,pianistas Robert Fuchs,Aleyson Scopel e Samuel Procópio na platéia,as pessoas ávidas,porque sabiam que realmente música da melhor qualidade seria ouvida naquela sala. O programa começou com dois Improvisos Op.90 nº2 e 4,onde a intimidade da poesia de Schubert já dava o tom do evento. As frases eram de uma perfeição estética,absolutamente impecáveis no melhor do estilo,para quem realmente conhece música! O mundo interiorizado do compositor estava exposto no melhor de seu estilo,que muito poucos verdadeiramente conhecem. A obra mais esperada era a coletânea dos 24 Prelúdios de Chopin, que transbordou de sonho e poesia, encantando os ouvintes. Mas Ah Ruem não sonha, tem seus pés totalmente na terra,seu cerebralismo é maravilhoso,deixa nítido que nada é por acaso, tudo é pensado, trabalhado, meditado,uma verdadeira aula de interpretação controle. Sua perfeição técnica aliada ao melhor da qualidade do seu som, fizeram a platéia ficar em um silêncio sepulcral, qualquer movimento ou barulho poderia intervir na performance daquela pianista que passou por todas as difíceis provas de uma dos mais importantes Concursos de Piano do planeta. A sofisticação da pedalização era típica de quem conhece a técnica,quem sabe muito bem que o pedal se toca com os dedos dos pés em qualquer um dos três pedais,sem deixar nenhuma evidência da mudança de movimentos,isto é,o pedal não é para marcar ritmo fazendo barulho,mas sim para limpar, segurar e ajudar a ligar sons. Os Prelúdios tiveram uma versão altamente impecável,no sentido da melhor tradição da literatura do piano.Muitos executam obras de Chopin com rubatos cafonas, horrorosos, com gosto duvidoso,e o que o romântico Chopin na verdade queria é que sua música estivesse executada com poesia,emoção e muita paixão. Ah Ruem é simplesmente o que todo concurso gostaria de ter,uma vencedora impecável, profissional, um exemplo para os jovens que às vêzes, infelizmente pensam que podem interpretar sem respeitar o que os compositores escreveram,um considerável grande erro! Deveriam se espelhar em verdadeiros artistas,sempre procurando estudar mais e tendo mais humildade perante o teclado,procurando pesquisar mais sobre pedalização,estilos e atitudes diante de um instrumento e mais uma vez,repito,respeitar o que o compositor escreveu. Como já informei na coluna de quinta-feira passada,Ah Ruem tirou o segundo lugar e a madalha de prata,porque em 2012 não foi concedido o primeiro grande prêmio do certame. Nem queremos saber o porque! Acompanhando o Concurso Internacional de Piano de Santander há mais de 20 anos,podemos reafirmar que a pianista coreana é o ideal que todos querem como vencedora de um concurso internacional.

Seríssima,exuberante,domina o teclado com a maior simplicidade porque sabe que é dona de um virtuosismo ímpar e de uma palheta sonora das mais lindas,tudo em contato constante com seu mundo interior,que é sem dúvida seu maior aliado e cúmplice. Paloma O’Shea,a grande mecenas,criadora e idealizadora do Concurso de Santander,pode estar feliz, porque apesar de ser a medalha de prata,ao longo de todos esses anos,a pianista Ah Ruem Ahm foi a melhor e a mais perfeita representante do prestigioso concurso. Como presenciei todas as suas provas no certame sabia que era maravilhosa,mas deixei o público ter a surpresa,sonhar mesmo que por uma hora, para ter a certeza do que é um ideal,uma grande artista,segura de sua música e de seu poder de atuação além de sua perfeita concentração.

O BRAVO da coluna ao deslumbrante recital.