O
evento realizado na Cinelândia no dia 31 de maio,o mesmo dia do concerto, pegou
muita gente de surpresa. Para começar os táxis só podiam chegar até a Rua
Senador Dantas,para o terror de quem estava de saltinho bem alto,que era o meu
caso. Saí da referida rua e fui andando até o Theatro Municipal do Rio de
Janeiro,rezando para não tropeçar em garrafas de água,jornais,tudo que estava no
chão,até chegar ao portão lateral do teatro na Treze de Maio. Estava um pouco
preocupada porque em outra época um quarteto de cordas internacional teve que
fazer um esforço sobrenatural para realizar um concerto no mesmo teatro,e com
um evento parecido na mesma Cinelândia. As janelas do local estavam trepidando
a tal ponto e som era tão alto que muitas pessoas pensaram que o concerto seria
adiado. A platéia estava serenamente esperando o ínicio do evento que aconteceu
às 22h05,mas todos queriam estar lá,era uma unanimidade. Surge no palco o
maestro Marcelo Lehninger,dono de uma experiência ímpar ao pisar no
palco,isto,porque a maneira que um artista entra em cena já define o que irá
acontecer. Lehninger foi super simpático ao pegar o microfone e conversar com a
platéia ,foi bem relaxante e agradável ouvir do maestro que “deveria ser tocada uma Sinfonia de Bruckner
com os altofalantes virados para a Cinelândia”,lógico que deu uma aliviada na
tensão pré concerto e os risos foram a tônica do alto astral.
Aos primeiros sons de As Hébridas op.26 A Gruta de Fingal de Félix Mendelssohn,a atmosfera sonora já se mostrou belíssima,com a qualidade do som,especialmente os pianíssimos,muito bem trabalhada,uma vez que é o maestro quem molda a sonoridade da orquestra e Lehninger soube explorar ao máximo também a afinação do conjunto de uma maneira primorosa. A segunda obra do programa foi o Concerto para Violino e orquestra nº1 em Sol Menor op.26 de Max Bruch,como solista convidada a violinista Alexandra Soumm,que nasceu em Moscou e foi aos dois anos de idade para Paris,foi aluna de seu pai,e é dona de uma técnica surpreendente, um arco belíssimo e o som,dos deuses, foi um momento ímpar além de ver a artista,que se sente muito bem no palco, tocar em um violino Guadagnini de 1785,emoção pura. Na segunda parte do concerto reinou absoluta a Sinfonia nº4 em Ré menor Op.120 de Robert Schumann,onde era muito claro que o maestro apimenta a orquestra com a exuberância da sua técnica e a segurança de quem todo dia rege e ensaia a Orquestra Sinfônica de Boston,pois Lehninger já está blindado,está em contato diário com os instrumentistas de uma das cinco mais importantes orquestras americanas do célebre circuito “Big Five”. Sorte? Sem dúvida,mas o talento natural,o saber incorporar cada obra,transmitir o melhor de cada compositor no mais puro estilo é façanha para poucos e isso Lehninger é um mestre,sobretudo porque soube transformar a OSB em uma sofisticada e impecável. Todos saíram do concerto em êxtase com uma noite brilhante, mostrando que tanto a juventude da solista como do maestro representam talentos naturais para suas funções,deixando muito bem claro que artistas jovens, seríssimos ,altamente profissionais podem tocar maravilhosamente bem.Foi sem dúvida um dos mais belos concertos da Orquestra Sinfônica Brasileira,que realmente brilhou pelas mãos do maestro Marcelo Lehninger.
O
BRAVO da coluna.