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Crítica: maratona pianística - jovens muito talentosos

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Sempre digo que é no palco que se aprende,não adianta somente estudar várias horas por dia de piano,por exemplo,pois no palco as emoções muadam,podem ser agradáveis,excitantes,deslumbrantes ou traumatizantes. Pensando nessa necessidade de sempre estar atuando,pisando muito nos palcos,desejando o contato com o instrumento onde o mundo é altamente solitário,enigmático e desejado,foi criado pela Dell’Arte,mais precisamente por sua presidente,a professora Myrian Dauelsberg,o projeto Maratona Pianística.

 O auditório do Espaço Furnas Cultural foi transformado nesse final de semana em uma verdadeira festa com a apresentação de um pequeno ciclo de recitais cuja programação era especificamente com obras virtuosísticas de dificuldade transcedental. Os intérpretes representam a fina flor da nova geração do teclado e no concerto de ontem subiram ao palco jovens que estudam muito e a cada concerto procuram a superação. O pianista Silas Barbosa percorreu muito bem o texto da Sonata para Piano de Bela Bartok,aliás suas leituras sempre são muito bem realizadas. A surpresa foi o progresso que fez o pianista Patrick Rodrigues,muito mais concentrado, com um som bonito,bem projetado,muito bem dosado e cuidado na Sonata nº4 em Fá Sustenido Maior op.30 de Alexander Scriabin,voltando ao palco minutos mais tarde para executar o Estudo op.8 nº12,também chamado Patético do mesmo autor e o Prelúdio op.23 nº 2 de Sergei Rachmaninov. Patrícia Glatzl encarou a dificílima Tocatta de Sergei Prokofiev demonstrando inteligência musical em momentos de decisão e mais uma vez brilhou Aleyson Scopel,que sempre é um prazer ouvir. É um pianista que demonstra uma natureza especial para o instrumento,se sente muito bem no palco e além de uma posição de mãos muito bonita,quando toca o teclado já é possível saber a qualidade e a segurança do que ele vai realizar. Sua leitura do El Fandango de Candil,de Enrique Granados foi muito bem realizada e a expressiva surpresa foi a sua invejável tradução das Cartas Celestes nº1 do saudoso compositor Almeida Prado. O texto da obra é complexo,com efeitos que precisam de encantamentos sonoros, alta precisão rítmica e poder de convicção. Raras vêzes eu ouvi essa obra tão bem tocada e tenho a certeza de que se o o meu querido Almeida Prado estivesse entre nós ficaria muito feliz em ver um texto seu tão bem transmitido e executado.

Um ponto bem marcante e interessante é o fato do público que não conhece música ter a oportunidade de ouvir os comentários tão preciosos de Myrian Dauelsberg, professora da maior parte dos pianistas brasileiros,traduzindo o mundo dos compositores de uma maneira tão sofisticada e da mesma forma tão bem ensinada. Outra inovação foi a iluminação com a mudança das cores,de forma que cada pianista tinha uma cor pesoal no palco. 

Todos estão de parabéns, são jovens muito talentosos, sei que estudam sério,precisam tocar muito para adquirir a tão sonhada experiência que somente é possível com a intensa vivência no solitário palco. Mais  “Maratonas Pianísticas” merecem novas programações, mas  o único ponto para mim,destoante foi a presença de duas fotógrafas que faziam um verdadeiro “duo” com seus cliques e andanças pelo auditório,a tal ponto que por várias vêzes coincidiram com os acordes nas obras apresentadas,e mais,presenciei vários cliques alternados, o que me fez pensar se elas sabiam realmente o quanto poderiam estar incomodando a concentração dos artistas,além dos ouvidos mais apurados. Fotografar um evento é completamente diferente que fotografar um concerto,aliás fato muito estranho,imaginem esse procedimento no Theatro Municipal. Seria muito desejável que o silêncio sempre reinasse nas salas de concertos,porque por ouvir um clique fora da hora,um artista pode perder o controle o que seria lamentável,e estragaria todo um esforço de um estudo para se chegar ao palco.

O BRAVO da coluna para o projeto Maratona Pianística