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Conversando com o musicólogo Flávio Silva

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O Conversando desta semana é com Flávio Silva, musicólogomembro da Academia Brasileira de Música e coordenador de Música Erudita da Fundação Nacional de Artes, FUNARTE.

Estamos em plena festa da música com a cidade fervilhando de criações, com as estréias mundiais de obras de 39 compositores que foram encomendadas  pela FUNARTE, tornando o Rio de Janeiro,mesmo que por uma semana, a capital da música contemporânea brasileira.

A XX Bienal de Música Brasileira Contemporânea,começou na última sexta-feira e até o dia 6 de outubro várias correntes musicais poderão ser ouvidas em concertos realizados no Salão Leopoldo Miguez  da Escola de Música da UFRJ. O festejado Flávio Silva é a ligação viva entre a maioria dos compositores,e está na FUNARTE desde a sua criação,quando foi convidado pelo Maestro Marlos Nobre,então primeiro diretor do Instituto Nacional de Música da entidade,para fazer parte de sua equipe,observando que naquela época ainda não existia o Ministério da Cultura. Flávio Silva comanda com comprovada eficiência a coordenação da Bienal,com muitas inovações na edição de 2013 do evento. 

A FUNARTE foi criada antes do Ministério da Cultura há décadas e continua tendo uma importância relevante na cultura do país.Tem algum segredo? 

 A Funarte passou por muitos altos e baixos, durante esses mais de 30 anos de atuação. Houve uma enorme variação no quadro técnico de servidores; a maioria dos que construiram a história da casa se aposentou, ou foi para outras instituições. O corpo atual procura manter uma linha coerente de atuação, que, naturalmente, pode depender de variações ou de mudanças em escalas superiores. A própria criação da Funarte acarretou o surgimento de instituições estaduais análogas, ou de secretarias estaduais e municipais de cultura, mescladas ou não com turismo, educação e/ou desportos. Esse fato contribuiu para redistribuir, de certo modo, atuações que eram antes exercidas ou estimuladas quase que só pela Funarte, o que trouxe uma saudável descentralização, em certos casos. E a criação do MInistério da Cultura carreou, naturalmente, para um orgão central, parte de atribuições originalmente nossas. Creio que a continuidade de nossa maneira de agir e de entender o país e suas necesidades é a razão maior para a importância que podemos ter.  

Você acompanha grande parte da história da música no Brasil conhecendo compositores de várias vertentes, segmentos e  pensamentos.  Podemos falar que o país exporta compositores? 

Com a consolidação de cursos universitários de música, e, sobretudo, de composição, pode-se dizer que o pais tornou-se bem mais atrativo para a permanência, aqui, de compositores importantes. É claro que alguns preferirão trabalhar no exterior, sobretudo na Europa e nos EUA, onde as possibilidades são bem mais amplas do que no Brasil, mas o fato é que exportamos muito menos compositores do que jogadores de futebol. Aliás, há, também, muitos intérpretes, tanto na área popular como na erudita, que preferem se radicar no exterior. 

A Bienal de Música Contemporânea é um evento muito importante para a criação brasileira,sobretudo este ano poderá ser acompanhada pelo planeta,via internet. Da mesma maneira o pagamento das obras que serão apresentadas, representa um grande salto para a total remuneração dos criadores,um fato que deveria ser definitivo há muito tempo. O que está mudando? 

As mudanças ocorrem quando aparecem condições, ou são propostas idéias que propiciam soluções para problemas insuficientemente equacionados. Exemplo: tivemos um diretor no Centro da Música, da Funarte, que queria fazer gastos com  a Bienal no ano anterior à de sua realização. Esses gastos eram, basicamente, os com cachês e com pagamentos de serviços, que só podem ser pagos após aquela realização. Surgiu, então, a idéia de, nos anos pares anteriores ao das Bienais (que ocorrem nos anos ímpares), fazer encomendas e concurso de obras, pagando por essas obras. A idéia foi aceita, e o orçamento foi, praticamente, duplicado para a XIX Bienal, de 2011. Mantivemos esse princípio para a Bienal deste ano: concurso e encomendas no ano par, realização no ano ímpar. Já no início deste ano, o diretor da Escola de Música da UFRJ sugeriu que fizéssemos a Bienal pela internet. Aceitamos imediatamente essa sugestão, que demandou um enorme trabalho de organização, e que só chegou a bom termo com a participação do Centro Técnico Audiovisual, da Secretaria do Audiovisual, do Ministério da Cultura. Não só aceitamos a sugestão, como decidimos ser essencial divulgar nacional e internacionalmente essa difusão, junto a instituições musicais no Brasile no exterior, utilizando, inclusive, textos em inglês. Ou seja: as propostas de modificações ou de aperfeiçoamentos podem surgir de várias formas, mas é essencial que haja um sentimento de falta, de que alguma coisa pode ser melhorada, para que as coisas andem. E esse sentimento vem, basicamente, de uma experiência de anos em determinada área. Para esta Bienal, por exemplo as encomendas foram feitas mediante eleição em que 67 compositores e regentes, escolhidos de acordo com participações em anteriores Bienais, votaram, cada um, em 10 nomes; dos 670 votos recebidos saíram os 39 nomes contemplados com encomenda de obra. Para a próxima Bienal, pensamos manter esse critério de eleição, mas alargando o colégio eleitoral e introduzindo algumas outras alterações.