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Crítica:  Yo-Yo Ma, um artista perfeito!

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Com um Theatro Municipal lotado, subiu ao palco na última sexta-feira o célebre violoncelista americano Yo-Yo Ma - nascido em Paris, e de pais chineses -, para deslumbramento da plateia. A apresentação, dentro da Série Dell’Arte Concertos Internacionais, contou ainda com a pianista Kathryn Stott.

O repertório foi diferenciado na sua composição, que sai das tradicionais Sonatas da literatura do repertório, originais para o violoncelo e piano, transitando por um mundo de transcrições.

É normal os compositores fazerem as suas próprias versões para outros instrumentos, diferentes dos que conceberam em sua obra original.

O recital começou com a Suite Italiènne, de Stravinsky, com uma versão feita pelo próprio compositor, com movimentos de seu famoso balé Pulcinella. O som do violoncelista é lindo, puríssimo, com uma qualidade perfeita, dono de uma técnica naturalmente deslumbrante, sem nenhum tipo de dificuldade, todas já foram vencidas pelo brilhante artista. Diante de todos estes predicados já demonstrados na primeira obra do programa, a plateia estava eletrizada e, para os que ouviram o artista pela primeira vez, os comentários de várias pessoas eram de êxtase, tanto nos banheiros como nos corredores do local.

As Três Peças, Alma Brasileira de Villa-Lobos, Oblivion, de Piazzolla e, Dança Negra de Camargo Guarnieri, foram traduzidas na melhor das leituras dos referidos textos, apesar de, neste caso, serem arranjos feitos não pelos compositores, originalmente, mas sim pelo argentino Jorge Calandrelli, para Villa-Lobos e Guarnieri, e Yamamoto para Piazzolla. São  obras escritas em diferentes épocas e, por incrível que possa parecer, as três peças formavam um verdadeiro tríptico, com emoções elegantemente expostas e executadas sem nenhuma interrupção pelo artista, provando até que podiam conviver como uma pequena suíte. Acabando a primeira parte do recital as Siete Canciones Populares Españolas de Manuel de Falla, conjunto de peças de grande emoção e profundidade, estas sim com transcrição feita pelo próprio Manuel de Falla, e que foram traduzidas com enorme beleza  e extrema emoção e sofisticação sonora pelo duo.

A segunda parte do programa teve a Louange  à l’Éternité de Jésus, do Quartuor pour la fin du temps de Olivier Messian tocada como um sonho, com uma plateia altamente silenciosa e perplexa diante da profundidade da concepção do artista, altamente estática, onde foi demonstrado ao alto controle tanto do som quanto do arco do célebre violoncelista, alcançando a plenitude e o entendimento de como a obra foi concebida, infelizmente quando Messiaen foi capturado e colocado em um campo de prisioneiros da II Guerra Mundial, local da realização da  estreia mundial. Voltando a felicidade de ouvir Yo-Yo Ma no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, tivemos mais uma versão, desta vez, da Sonata para Piano e Violino op.108,de J.Brahms, que tem transcrições de alguns violoncelistas como Starker ou Rose. Yo Yo-Ma foi fenomenal, é um perfeito conhecedor de todos os estilos, explorando, portanto, todas as possibilidades estéticas, contando com a parceria da pianista Kathryn Stott, uma das mais importantes pianistas inglesas, dona de uma ótima técnica e uma palheta sonora de primeira qualidade. O duo trabalha e grava junto, e além do talento dos dois artistas reflete a cumplicidade necessária para a construção de  um duo, onde cada parte deve dar os seus cinquenta por cento para nascer efetivamente um novo cem por cento. Isto é verdadeiramente  um duo, onde a amizade é notada nos mínimos detalhes, observando que o mais sofisticado foi o violoncelista sentar colado ao piano, inclusive para falar com sua metade, em recados visuais altamente invejáveis. Ele é um adorável partner, faz do violoncelo a continuação do seu corpo e da sua alma e, sendo a estrela que é, divide generosamente suas emoções com sua fantástica pianista.

Além do BRAVO da coluna, a colunista só tem um desabafo: como eu queria tocar com ele!