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Conversando com a pianista Sonia Goulart

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A coluna conversa hoje com a pianista Sonia Goulart, uma das mais importantes pianistas de sua geração no Brasil. Sonia fez seus estudos de aperfeiçoamento na Alemanha com grandes professores, ganhou dezenas de concursos de piano, casou, e teve dois filhos - a violinista Márcia Lehninger, que mora nos Estados Unidos, e o maestro Marcelo Lehninger, que hoje é o regente  assistente da Boston Symphony Orchestra. Conseguiu a harmonia entre filhos, carreira e magistério, tornando-se professora titular da UFRJ, onde teve alunos que atualmente estão pelo mundo, seguindo seus destinos. Uma das maiores emoções da pianista foi tocar vários recitais, grávida de seu filho Marcelo que, na atualidade, é o maestro que sobe ao palco e rege sua mãe como solista.

A pianista baiana de Salvador mora há décadas no Rio de Janeiro, cidade que adora, e vai  dividir um pouco de seus pensamentos e de sua vida com os leitores da coluna.

Você é uma das maiores pianistas brasileiras da sua geração, além de exímia professora. Existe um pensamento que "nem todo ótimo pianista é um ótimo professor", o que no seu caso é uma exceção.Você teve muitos alunos talentosos e premiados na sua classe na UFRJ, onde você foi professora titular, que seguiram carreira, quer como professor quer como pianista?

Como você mencionou, o bom artista não é necessariamente um bom mestre e existem casos de excelentes pedagogos que não são artistas atuantes. No entanto, há uma preferência entre os alunos de procurarem como mestre um professor que seja, também, atuante como artista. Este talvez inspire, justificadamente ou não, uma confiança a mais. É o caso do slogan "aprenda com quem faz". No caso do ensino da música, particularmente de execução instrumental, há um análogo perfeito: um bom exemplo musical vale muito mais do que mil notações. Um mestre que também é um bom artista pode mostrar uma solução técnica imediata , no instrumento, ao aluno.  Fiz questão de prosseguir com as ''duas vidas'' com a mesma dedicação. Exerci por anos o cargo de professora titular da Escola de Música da UFRJ até o ano passado, quando decidi me dedicar exclusivamente à carreira artística. Hoje, divido meu tempo entre Brasil, Europa e EUA.

Exercer por anos o magistrado foi um trabalho muito gratificante e hoje tenho diversos alunos que estão espalhados pelo mundo, exercendo não somente uma carreira pianística, mas também acadêmica. Tenho alunos que foram premiados em concursos nacionais e internacionais, e que hoje fazem carreira nos Estados Unidos e na Europa. Posso citar, por exemplo, dois pupilos meus que venceram o 'Concurso Nacional Mozart' e foram convidados para tocar no Schloss Mirabel em Salzburg e na Sala Bosendorfer em Viena. 

Para seguir a carreira de pianista,não adianta só estudar seis horas por dia. A experiência tem que ser adquirida no palco, para filtrar as emoções e a prova de fogo para saber se os concertos serão provas de amor ou de pavor. Para os que começam é necessário ter lugar para tocar, fazer concursos para se tornarem conhecidos, mas para os que já começaram uma carreira nacional, posteriormente internacional, faltam empresários que queiram investir na prata da casa, e formar uma verdadeira Rede de Música, como existia na época em que a Funarte foi criada.Todos os artistas brasileiros costumavam se cruzar nos aeroportos. Hoje, o que aconteceu?

Concordo plenamente; é no palco que o artista amadurece. Aprendi muito no palco, sobretudo a saber como dominar as emoções.  Na minha época de estudante, o jovem pianista tinha muito mais oportunidades de apresentações públicas. Existiam muito mais concursos no país e as orquestras davam imenso suporte ao jovem artista. Lembro-me, por exemplo, de ter tocado o Concerto em Ré menor de Mozart com apenas 13 anos de idade no Theatro Municipal do Rio, como vencedora do Concurso para Jovens Solistas da Orquestra Sinfônica Brasileira – OSB. Dois anos depois, toquei o 2o Concerto de Chopin sob a regência do maestro Eleazar de Carvalho, quando venci novamente o mesmo concurso.  A Funarte foi de fato uma grande criação, que proporcionava ao músico brasileiro a  oportunidade de se apresentar nas grandes salas e teatros do país. Percorri o pais inteiro através desta instituição. Penso que deve-se investir mais na criação de espaços para os jovens se apresentarem, assim como na criação de um mecanismo onde haja uma maior valorização do artista nacional. Vejo, por exemplo, que nas grandes orquestras americanas apresentam-se famosos artistas internacionais, assim como artistas locais. Isso é um equilíbrio saudável e eu admiro as direções artísticas de orquestras brasileiras que seguem este exemplo, proporcionando mais oportunidades para o artista brasileiro, e não somente tentando criar utopicamente esta imagem do “internacional”.

Você é muito requisitada para dar cursos, recitais e concertos com orquestras. Você tem bons planos para 2013?

Recentemente, toquei o 4º Concerto de Beethoven na Sala São Paulo, para uma entusiasmada plateia, sob a regência do meu filho, Marcelo Lehninger. Marcelo é regente assistente da Boston Symphony Orchestra e diretor artístico e regente titular da New West Symphony em Los Angeles. Foi uma experiência única tocar com ele e temos marcado um concerto nos EUA para a próxima temporada, onde irei tocar os Concertos de Chopin. Minha carreira sempre foi focalizada no Brasil e na Europa, onde realizo tournées anualmente, mas estou agora entrando no circuito norte americano. Tenho agendados concertos com orquestras e recitais nos Estados Unidos, além de convites para realizar Master Classes em importantes universidades americanas. Ano passado realizei alguns recitais em Boston e fui re-convidada para a próxima temporada, onde estarei me apresentando no Steinway Hall. Vou, também, à Washington, Baltimore e Los Angeles. Realizei, em 2012, um recital e Master Class no Keene College em New Hampshire, onde fui responsável pela primeira audição de algumas valsas do compositor israelense Ami Mayaani. Temos um projeto de gravação de um CD com a integral das valsas, que irei gravar em Telaviv. 

Obrigada, Sonia, pela conversa.