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Crítica: Renée Fleming, soprano, e Gerald Martin Moore, piano

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Após um feriado no final da semana, o Theatro Municipal estava lotado para prestigiar, domingo (4), a série Dell’Arte e seus 30 anos de soluções culturais.

Subiu ao palco um dos grandes mitos da atualidade,a soprano e diva Renée Fleming, em parceria com o pianista Gerald Martin Moore. É a primeira vez que a artista americana vem ao Rio de Janeiro, cidade que ficou fascinada pela beleza. 

Surgiu no palco com um vestido lindíssimo, preto e rosa velho, com uma echarpe preta, tudo elegantemente brilhante. Já na segunda parte, o vestido era verde  com uma echarpe dourada. O cabelo tinha um penteado diferente em cada parte do recital, assim como as joias, na primeira parte, pareciam diamantes negros e, na segunda, diamantes brancos. Tudo isto para mostrar todas as filigranas que as divas gostam. Tudo é glamour, atração, sobretudo quanto a diva é linda, como Renée, vestida por famosos designs e adornada por jóias famosas.

Agora quando começa a cantar, a sua presença é magnética. Temos a total certeza de que a perfeição existe. Ficamos em um camarote quase em cima do palco, e pudemos ver como a respiração da diva é seu precioso segredo. Isto é realmente o segredo de uma técnica esplendorosa, respirar sem deixar o menor vestígio, sem transparecer a menor dificuldade, na verdade até se esquece que existe respiração. É o resultado de sua inegável inteligência de interpretação. Ela faz da voz o que ela quer, tal é a natureza com que pega notas dificílimas, passando dos fortes para os mais invejáveis pianíssimos. Sua voz é simplesmente suntuosa, cativante, objeto de admiração nos principais palcos do planeta. Sua carreira é poderosa, cantou inclusive este ano no Concerto do Jubileu de Diamante para Sua Majestade a Rainha Elizabeth II, em Londres, assim como participou do The Obama Inaugural Celebration, em Washington, já se preparando para uma apresentação convidada pelo sultão de Omã. Uma vida divina.

A apresentação em parceria com o pianista Geral Martin Moore é o resultado de anos de trabalho conjunto, sendo o artista um dos mais requisitados professores de canto, e também um consultor de voz, preparador, inclusive, de outros artistas assim como fazendo gravações com Renée para o selo Decca.

O programa de ontem passou por Debussy, Canteloube, Korngold Strauss, Verdi, Leoncavallo e Cilea. Cantou vários bis, mas Azulão, de Jaime Ovalle, foi uma homenagem ao Brasil. Com uma dicção perfeita em vários idiomas, é uma verdadeira aula de canto e encantamento. Tudo é perfeito, não se duvida de nada, não se espera nenhum erro, pois se tem a verdadeira certeza de que ali tem estudo, técnica, exuberância, coerência e um profissionalismo invejável, no bom sentido. Tudo é cerebralismo e tudo é intuição. A única observação é que o pianista não precisava fechar toda a tampa do piano, sobretudo no palco, porque antes estava na meia tampa.

Um artista como ele pode muito bem tocar com o piano com a tampa aberta, afinal é assim o instrumento, é assim que o som é autêntico. Cabe ao pianista dosar, com filigranas de peso, a palheta sonora a ser usada.

No mais, que bom ouvir uma grande e autêntica diva e um pianista cúmplice no seu ofício. Não é sempre que se pode ter em cena uma Renée Fleming. A coluna deseja, claro, sua volta mais do que breve ao Rio de Janeiro, sua presença é pura arte e emoção, além de um exemplo de perfeição.