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Crítica:  “Il Pirata”, de V.Bellini. Maestro Tiziano Severini, a grande estrela 

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O maestro é  o  ponto de apoio, de alto controle, de sustentação, de domínio de toda uma situação, às vezes emergencial, que requer resoluções em centésimos de segundos, seja em uma apresentação de orquestra, uma ópera ou um oratório.

Na apresentação de ontem, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, da OSB Ópera & Repertório, a grande estrela da noite foi sem dúvida o excelente maestro italiano Tiziano Severini. Nada seria tão positivo sem a sua presença. Ah! Experiência! A de trabalhar com um grande e tarimbado maestro sobretudo em ópera! Altamente requisitado em palcos internacionais, é um talento aliado a uma formação profissional verdadeiramente impecável, para qualquer montagem. É a base que tanto a orquestra quanto os artistas precisam para seus papéis, a confiança em ter um líder nato, atenciosíssimo nas entradas, passando, portanto, uma segurança total para cada integrante do espetáculo, com um texto mais do que encarnado e inspirador. 

A orquestra fez uma lindíssima abertura da ópera, músicos muito concentrados, assim como os seis solistas. Duas estrelas com o mesmo nível internacional brilharam muito ontem: o tenor Fernando Portari, com sua voz linda, um timbre privilegiado mesmo, afinação impecável, um fraseado com grandes linhas, sem falar na sua técnica exuberante. É sem dúvida um dos grandes tenores brasileiros que sabe pisar em um palco, domina o papel e o palco, isso é definitivo. A segunda estrela é a soprano espanhola Saioa Hernández, aclamada e admirada por Montserrat Caballé como uma das grandes divas da atualidade. Na verdade é mesmo. Sua entrada no palco, com um lindo vestido vermelho, foi sem dúvida de grande diva. Suas marcações são perfeitas, transmitindo a certeza da sua performance divina, como realmente foi. Com sua voz preciosa, sem falar na técnica sofisticada, nos fez sonhar nos dois atos. Um dos pontos altos foi o diálogo de Imogene, o personagem a quem emprestou sua voz, com o Gualtiero de Portari. Outro diálogo belíssimo foi quando Imogene sugere o encontro em uma praia. Foi realmente sublime. A atenção era só para eles. Os dois artistas estavam nivelados tanto pela performance apresentada quanto pelo altíssimo nível internacional.

Outra presença brilhante foi o barítono Igor Vieira, que encarnou Ernesto. Realizou muito bem seu papel. Bravo também para o baixo Frederico de Oliveira, como Goffredo, e Ivan Jorgensen, como Itulbo, todos brasileiros. Destaque para a soprano brasileira Maira Lautert, como Adele. Esteve muito bem, tem intimidade com o palco e um timbre de voz muito bonito. A orquestra esteve em grande estilo e o Coro Ópera Brasil fez um trabalho espetacular, com gamas sonoras lindíssimas e vozes bem trabalhadas. Foi um ponto alto, sem dúvida. Aplausos também para a Banda dos Fuzileiros Navais, sempre bem presentes.

E o que fica de tudo isto é a certeza de que é imprescindível crescer com a energia dos grandes, isto é, um líder como o maestro Severini é o ponto de partida para o sucesso, porque sua experiência na regência, sobretudo de óperas, reflete na qualidade do desenvolvimento do trabalho, de ensaiar uma ópera, colocar tudo nos devidos lugares e, por fim, dar vida aos personagens, excitando mentalmente o elenco para tirar de todos o melhor.

A coluna a cada dia está certa de que é possível fazer bem espetáculos como os de ontem no Rio de Janeiro, que tem a coordenação mágica de nosso Fernando Bicudo, que sabe escolher as  figuras chaves  para o pleno sucesso de um espetáculo de grandíssimo nível. A experiência de Bicudo na realização da temporada de ópera do novo conjunto da OSB vem demonstrando que o Rio de Janeiro possui a personalidade chave do sucesso das apresentações do bel canto. Bicudo tem competência, conhecimento e imaginação. São suas qualidades  constantes, sendo nosso maior e mais competente régisseur. 

A apresentação de Il Pirata, de Bellini, foi sem dúvida plena e extremamente maravilhosa.

O BRAVO total da coluna.