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O jornal que é do Brasil

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O que tem em comum Joaquim Nabuco, Ruy Barbosa, Barão do Rio Branco, Barbosa Lima Sobrinho, Ferreira Gullar, Augusto de Campos, Carlos Drummond, Clarice Lispector, Henfil, Ziraldo, Carlos Castelo Branco, João Saldanha, Armando Nogueira, Alceu de Amoroso Lima, Assis Chateaubriand, Jânio de Freitas, Tristão de Ataíde, Fernando Sabino, Millôr Fernandes e Valéria Vieira? Todos escreveram para o JORNAL DO BRASIL. 

Quando jovem, ao chegar no Rio de Janeiro, vindo de carro de Minas Gerais, só me sentia no Rio quando avistava o prédio do JB. 

Sempre me neguei a acreditar que o jornal impresso tinha os dias contados.  Todas as manhãs tenho o indizível prazer de, antes de abrir a internet, manusear, com calma, e às vezes com certa volúpia os jornais. Quando foi anunciado o fim da edição impressa do JB uma tristeza doída tomou conta de mim. Era uma espécie de derrota.  

Para os que amam literatura, futebol, O jornal que é do Brasil política, as notícias que compõem este caleidoscópio fantástico que é a vida; é impossível não ter nas mãos um jornal.  

A notícia na fria tela de um computador parece ganhar vida, cor e forma quando estampada no jornal impresso. Existe para minha geração uma cumplicidade entre o toque no papel e a leitura. Uma interação ao passar as páginas do jornal, certa certeza, ou ilusão, de que estamos participando daquilo que estamos lendo.  

O jornal serve para resistência. A nota publicada no JB no dia seguinte a edição do AI-5 diz tudo: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos. Máxima 38º C em Brasília. Mínima 5º C nas Laranjeiras.” 

O jornal serve para marcar posições. O JB sempre se posicionou desde a monarquia.  Mas sua linha editorial nunca censurou a presença dos mais diversos matizes ideológicos, políticos ou culturais. Essa talvez seja a maior riqueza de um jornal. 

Quem acompanhou o JB sabe que o jornal apoiou em dado momento o governo militar, mas as colunas do Tristão de Ataíde e do Castelinho representavam o pensamento da liberdade.

 Mesmo com a linha editorial definida a alma de um jornal vai além disso.  Ela se forma pela multiplicidade de posicionamentos, liberdade de ideias e apoio às mais diversas manifestações de pensamento. 

A leitura é um dique para não transbordarmos, para conter nossos escombros quando somos destruídos por uma realidade que pode nos levar à beira do desespero. Uma pá que pode recolher os nossos restos de esperança nos momentos difíceis.  É através da leitura que vivemos. 

Saúdo a volta do JB. Será um espaço não só da construção de um país mais solidário, justo e igual, mas, principalmente, um espaço plural onde poderemos debater nossas diferenças tentando encontrar as convergências necessárias para fortalecer o estado democrático de direito. Em um momento punitivo como este que passa o país é muito bom ter de volta o nosso velho JORNAL DO BRASIL. 

*Kakay, é advogado