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Jornal impresso-Reflexões

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A causa não é do Juiz, a notícia não é do jornalista. Ambas desenvolvem-se a partir de atuação isenta. E isenção não se confunde com opinião. Opinião é do ser capaz de pensar. A formação humanística individualiza a ação de julgar, assim como a de escrever, sendo pautadas pela conformação do fato ao resultado anunciado. O magistrado realiza o julgamento com imparcialidade, e o jornalista, a divulgação com credibilidade. 

Devoto da imprensa livre, considero-a atividade das mais necessárias ao bom funcionamento das instituições, ao Estado. Surgida da luta de poucos, tantas vezes levada a efeito em difíceis condições materiais e perseguições políticas, consagrou-se, aqui e no mundo, como instrumento de transformação social, na medida em que, além de informar, expõe deficiências e cobra soluções.

Na consolidação da democracia brasileira, o JORNAL DO BRASIL tem contribuição ímpar. Periódico dos mais antigos, acompanhou as transformações ocorridas no País desde a monarquia, posicionando-se com firmeza na defesa dos ideais almejados, ao tempo em que soube adequar-se à nova realidade. Inovador desde a longínqua época em que a distribuição em carroças tornou-se a grande novidade, foi o primeiro a ter edição inteiramente digital. Retorna a circular em papel. Aplaudo a iniciativa. 

Parafraseando Humberto Eco, afirmo: não contem com o fim do jornal impresso. As plataformas de disseminação da informação a partir da tecnologia têm vantagens, sobretudo a rapidez e a acessibilidade, permitindo a transmissão da notícia em tempo real. Mas o uso do computador e de outros meios digitais, apesar de prático, é cansativo aos olhos, desconfortável ao corpo e frio ao espírito.

 Assim como há muitas diferenças entre o comer e o alimentar-se, a leitura do jornal envolve outros sentimentos além do mero engolir da notícia. Visão, tato e até olfato e audição mesclam-se no lírico momento de saciar-se dos acontecimentos, de analisar os editoriais, de degustar os cadernos especiais. Muitas imagens vêm-me à mente. A ida às bancas para ver as manchetes, a lembrança de meu pai lendo os jornais pela manhã, o farfalhar das folhas que antes manchavam as mãos, a dobra do exemplar lido sobre a mesinha, o local de ponto de encontro da família... A leitura do jornal, muito mais do que a busca pelas novidades, é um ritual que só encontra completude na forma impressa. 

A materialização do veiculado em meio físico contribui para o aquecimento da alma e propicia a reflexão. Nada supera, para os que gostam de ler, o toque e o virar das páginas vencidas. E quem já se sentou com um exemplar de jornal em frente ao mar, na perfeita junção do útil ao agradável, sabe o quão carioca é essa experiência. Aclamo o retorno do JORNAL DO BRASIL às bancas. 

*Ministro do Supremo Tribunal Federal