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A Paraíso do Tuiuti

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A Arte pode ser entendida como a atividade humana ligada às manifestações estéticas e comunicativas, realizadas por meio de uma grande variedade de linguagens. 

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, fundado em 1954, teve sua origem na comunidade do morro, no bairro proletário de São Cristóvão.

Durante o primeiro reinado, havia um reservatório de água, no alto do morro, que serviu de fonte de abastecimento para a Quinta da Boa Vista, onde funcionava, na época, a residência real.

A ocupação do morro remonta às primeiras décadas do século XX. Após as reformas urbanísticas promovidas pelo então prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, cortiços  foram derrubados, seus moradores, formados majoritariamente por ex-escravos e migrantes de outras partes do país, buscaram abrigo em áreas desabitadas como o Tuiuti. 

Segunda colocada no desfile no Sambódromo, a Paraíso do Tuiuti fez um belíssimo espetáculo de arte e cultura popular.  Uma crônica política de nossos tempos e da própria história da comunidade sofrida, formada por descendentes de ex-escravos e de trabalhadores que vivem as agruras da pobreza e que de forma clara foram  abandonados pelo poder público. 

A Tuiti, magnífica, recontou a história da escravidão no Brasil, nos 130 anos da Lei Áurea, e fez uma crítica ao racismo e às dificuldades dos trabalhadores brasileiros hoje, os “guerreiros da CLT”.

De forma objetiva, mostrou o que está engasgado na garganta do povo brasileiro. A comissão de frente trouxe um "grito de liberdade", com os escravos açoitados por um capataz.

As últimas alas, que retrataram as dificuldades dos brasileiros em busca de empregos, o “pato de gravata", os “paneleiros de camisas amarelas”, revelaram a situação atual do Brasil.

A escola apresentou um novo navio negreiro, ao comparar trabalhadores explorados pela classe dominante com os escravos do passado, e ao mostrar pessoas de mãos acorrentadas, colarinhos brancos e moedas de ouro. 

A passagem do vampiro neoliberal com a faixa presidencial foi sensacional. 

“Meu Deus! Meu Deus!

Seu eu chorar não leve a mal

Pela luz do candeeiro

Liberte o cativeiro social”

Vivemos tempos de crises, desmandos e falta de ação dos poderes públicos.

O poeta popular Wilson das Neves já profetizava, em 1966, em seu samba, “O dia em que o morro descer e não for carnaval”.

Dizia, entre outras coisas: 

“Ninguém vai ficar pra assistir o desfile final". 

* Evaldo Valladão é Presidente da Academia Brasileira de Engenharia de Segurança no Trabalho.