ASSINE
search button

A Lava Jato precisa investigar a Lava Jato

Compartilhar

O depoimento que o advogado Rodrigo Tacla Durán deu no último dia 30 à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga a JBS trouxe à luz fatos graves dos bastidores da Operação Lava Jato. Denunciado por dois diretores da UTC Engenharia de gerar caixa dois para a empresa, Tacla Durán, que também representou a Odebrecht, virou alvo da Lava Jato. Aconselhado a procurar um advogado de Curitiba, cujo trânsito com as autoridades locais poderia resultar em melhores resultados, Durán contatou o advogado Carlos Zucolotto, sócio da advogada Rosângela Moro, esposa do juiz Sergio Moro e padrinho de casamento do casal, que em vezes anteriores já havia prestado serviços para o seu escritório.

Tacla Durán afirma em seu depoimento que após contato com Zucolotto, o advogado teria conversado com os procuradores da força-tarefa da Lava Jato, conseguindo encaminhar um acordo de delação premiada, reduzindo a multa de US$ 15 milhões (estipulada pelo Procurador Roberson Pozzobon) para US$ 5 milhões, com a condição de Durán pagar US$ 5 milhões “por fora”, a título de honorários; porque “havia o pessoal que ajudaria nessa tarefa”. Neste pacote constaria ainda a prisão domiciliar em lugar do regime fechado. Depois dessa troca de mensagens, segundo Durán, os procuradores Júlio Noronha e Roberson Pozzobon lhe enviaram e-mail com a minuta do acordo de delação, em conformidade com os termos propostos por Carlos Zucolotto.

Como a delação lhe imputava crimes que não cometeu e as tratativas lhe pareceram uma espécie de extorsão e ainda, diante do risco de ser mais um preso preventivamente, além da ameaça de ver sua irmã, também advogada arrolada nas investigações, decidiu, por ter dupla cidadania, não aceitar os termos e mudar-se para a Espanha com toda a família, uma maneira, segundo ele, de se defender das prisões “abusivas e ilegais” que vêm ocorrendo no Brasil.

As acusações de Rodrigo Tacla Durán à CPI da JBS já tinham sido publicadas pela Folha de São Paulo em agosto, em matéria da jornalista Monica Bergamo, fazendo com que o juiz Sergio Moro divulgasse nota contestando as acusações. Em um dos trechos, o juiz Moro diz: “O relato de que o advogado em questão teria tratado com o acusado foragido Rodrigo Tacla Durán sobre acordo de colaboração premiada é absolutamente falso”.

Em outro trecho, Sergio Moro diz: “Nenhum dos membros do Ministério Público Federal da força-tarefa de Curitiba confirmou qualquer contato do referido advogado sobre o referido assunto ou sobre qualquer outro, porque de fato não ocorreu qualquer contato”.

Moro argumenta ainda que Durán mentia, por não apresentar provas do que dizia à jornalista e por não haver outras fontes de confirmação. Diz o juiz Moro: “Rodrigo Tacla Durán não apresentou à jornalista responsável pela matéria qualquer prova de suas inverídicas afirmações e o seu relato não encontra apoio em nenhuma outra fonte”.

Na nota, Sergio Moro reitera que o advogado Zucolotto é seu amigo pessoal e lamenta que seu nome tenha sido usado em uma matéria jornalística irresponsável com o objetivo de atingi-lo.

Passados quatro meses da reportagem, o advogado Tacla Durán, em depoimento à CPI da JBS, revela finalmente as provas do diálogo com o advogado Zucolotto, que foram periciadas e comprovadas como verdadeira pelo Dr. Cástor Iglesias Sanzo, presidente da Associação Espanhola de Peritos Judiciais. Segundo o advogado, o diálogo aconteceu através de um aplicativo chamado Wickr, que deleta as mensagens de acordo com o tempo programado, não sendo possível fazer um “print screen”, porque ele avisa ao interlocutor do outro lado. Assim, ele fotografou os diálogos com um aparelho celular.

Apesar da gravidade das denúncias, a grande mídia fez vista grossa, não repercutiu as denúncias de Tacla Durán, papel que coube às redes sociais. Grosso modo, esse silêncio parece dizer que a Operação Lava Jato precisa investigar a Operação Lava Jato.

* Escritor e membro da Oxford Philosophical Society