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Haverá eleições em 2018?

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Tenho voltado a uma tarefa/contribuição militante de mais de 30 anos: fazer análise de conjuntura. À luz do famoso livrinho do Betinho (Herbert de Souza), ‘Como fazer análise de conjuntura’, da não menos famosa coleção Primeiros Passos dos anos 1980: cenários, atores, correlação de forças, etc.

Não está sendo nada fácil. O quadro é complexo e problemático. Os cenários possíveis ou prováveis mudam a cada dia. Quem e quais são mesmo os atores relevantes no atual contexto sócio-político-econômico-cultural?  Correlação de forças de quem com quem, ou de quem contra quem? Onde está a direita? Onde está a esquerda? Quais seus pensamentos, seus valores, suas ações, suas práticas, qual é seu programa e projeto de sociedade?

Sou daqueles que não dou como certas as eleições em 2018. E encontro muita gente pensando a mesma coisa, fazendo a mesma avaliação. Não seria a primeira vez que, em momentos cruciais da história brasileira, a elite acha uma ‘solução’ conveniente a seus interesses. O golpe militar de 1964 prometia eleições em 1965. As eleições diretas para presidente só aconteceram em 1989, um quarto de século depois.  Eventualmente confirmadas, quais as regras da eleição de 2018, quais as condições e os cenários de sua realização, qual o contexto social, econômico, político, cultural, quais os atores principais. Não arrisco resposta definitiva a tantas dúvidas e incertezas a um ano das eleições a presidente, governador, senadoras/es, deputadas/os federais e estaduais.

Tudo pode acontecer. Nada pode acontecer.

No campo econômico, todos os indicadores mostram que haverá retomada do crescimento econômico só depois de 2020.O desinvestimento, a diminuição do Estado, as privatizações prometem gordos lucros para o grande capital, o Brasil e suas riquezas estão sendo vendidos/entregues, mas a economia é sem potência, anêmica, com todas as consequências para o conjunto da sociedade.

No campo político, há um grande descrédito da política em geral, quase ninguém confia nos partidos políticos, nas suas práticas e propostas. A população vê os que estão na atividade política como corruptos e ladrões. A política virou balcão de negócios. As regras do jogo estão confusas e ainda em mudança. Não se sabe quem serão os candidatos e por quais partidos ou alianças.

No campo social, a desigualdade, que vinha caindo, voltou a aumentar. O Brasil pode voltar ao Mapa da Fome. Cresce o desemprego e há precarização do trabalho, ainda mais com as Reformas aprovadas, especialmente a trabalhista, podendo ainda ser aprovada a da Previdência. As políticas sociais dos anos 2000 estão sofrendo um corte geral. Crescem a criminalidade e a violência, especialmente contra mulheres e jovens negros.

No campo cultural, a intolerância e o ódio são dominantes, junto com a volta da censura. Os valores da igualdade, do respeito à diferença, da solidariedade perdem espaço.

Quais serão os candidatos em 2018? Quais serão alianças? Qual será o programa de cada candidato e aliança? A direita ainda não achou seu candidato. Pode até ser um patrocinado pela Rede Globo. Ninguém sabe cm certeza se Lula será candidato ou não, mesmo liderando todas as pesquisas, ou exatamente por estar liderando todas as pesquisas. O Poder Judiciário, o pior poder da República, a grande mídia e os golpistas de plantão apostam e fazem de tudo para retirá-lo da disputa, com medo de sua densidade eleitoral, atestada por todas as pesquisas eleitorais.  

Não se pode esquecer o papel da mídia. Embora a Rede Globo esteja neste momento sob forte ataque e denúncias por episódios ligados à FIFA e corrupção no mundo do futebol, a mídia, Globo à frente, faz seu jogo, como sempre fez, ao lado dos anti-democratas, dos golpistas e do grande capital. Basta relembrar 1954, 1964, 1989, seu combate aos governos Lula e Dilma e a todos os governos populares e movimentos políticos e sociais progressistas ao longo da história. A grande mídia continua não sendo democrática, não aceita transformações estruturais, nem mesmo o Orçamento Participativo celebrado no mundo inteiro ou o Fórum Social Mundial.

Tudo indica, se houver eleições, que 2018 vai repetir 1989: eles contra nós, nós contra eles. Lula e anti-Lula. O que levará, o que não deixa de ser positivo, a um embate necessariamente programático, sobre qual futuro propõe-se para o Brasil e qual esperança apresenta-se ao povo brasileiro.

Haver eleições em 2018 é fundamental para a democracia brasileira e para a garantia de direitos e dignidade para as/os trabalhadoras/es brasileiras/os, para reverter as privatizações entreguistas e reverter as Reformas pró-grande capital, de preferência através de um Plebiscito. Sem eleições, poderá consolidar-se o golpismo, ou mesmo o caos econômico, social, político, cultural.

O que fazer até outubro de 2018, para garantir/exigir eleições diretas? Entre outras coisas, manter uma mobilização geral e total da sociedade brasileira a favor da democracia e dos direitos do povo. Estimular a desobediência civil, como já aconteceu em outros momentos da história. Realizar o maior Fórum Social Mundial da história entre 13 e 17 de março em Salvador, antecedido de atos anti-Fórum Econômico de Davos em janeiro. Apoiar e debater amplamente todas as propostas como o Programa Popular de Emergência da Frente Brasil Popular, o Vamos da Frente Povo Sem Medo, entre outras tantas iniciativas que estão ‘rodando’ o Brasil. Mobilizar a juventude, as mulheres, o povo negro, o Brasil, o povo LGBTT, os movimentos sociais e populares, as igrejas, a economia solidária, os movimentos ambientais, todos os homens e mulheres de boa vontade. Está em jogo o Brasil e seu povo. Está em jogo a democracia. Está em jogo o futuro.

UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL. UM OUTRO BRASIL É POSSÍVEL, urgente e necessário.   

Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990)