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Depressão aumenta risco de Alzheimer e existe tratamento sem remédio

Doença afeta 10,4% dos brasileiros, e 300 milhões no mundo

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A depressão é uma doença do cérebro que afeta 10,4% dos brasileiros, e 300 milhões no mundo, sendo a quarta causa de incapacidade, provocando uma perda econômica de mais de US$1 trilhão. Projeções da Organização Mundial de Saúde para 2.020 apontam que ela alcançará o segundo lugar do ranking. Isso se deve, em parte, ao fato de que o tratamento medicamentoso pode não controlar a doença em quase metade dos pacientes. O tratamento feito à base de remédios pode causar efeitos colaterais, como diminuição do libido, tremores, e aumento do peso, que podem tornar seu uso intolerável. 

Diante desse quadro é imperativo conhecermos as alternativas e avanços no tratamento da depressão que atualmente estão focados, basicamente, na medicação e na psicoterapia. Ambos, apesar de importantes, podem ser complementados, otimizadas ou substituídas, dependendo de cada caso, por outras modalidades de tratamento. 

Existem abordagens não medicamentosas para o tratamento da depressão como a neuro modulação cerebral não invasiva:

Terapia de neuro modulação cerebral não invasiva, resumidamente é o uso da tecnologia eletro-magnética, no tratamento do cérebro (como é o caso da Depressão).  A neuro modulação cerebral não invasiva tem como objetivo estimular diretamente áreas cerebrais que não estão funcionando. Como ocorre na depressão, a falta de atividade neuronal em determinadas  áreas cerebrais provocam os sintomas da depressão - desânimo, tristeza, falta de prazer. Esse tratamento visa restabelecer o funcionamento normal cerebral.

A depressão é uma doença neurológica com alterações funcionais de estruturas cerebrais como a redução do volume do hipocampo, redução do lóbulo frontal, redução do fluxo sanguíneo, e metabólica, como na região do córtex pré-frontal dorsal lateral à esquerda. Tais evidências permitem uma abordagem tecnológica como a neuromodulação para corrigir o mal funcionamento dessas estruturas cerebrais.

Entre os tipos de neuromodulação cerebral não invasiva podemos citar os dois mais utilizados: a Estimulação Magnética Transcraniana Repetitiva, através de um equipamento com bobina que gera um campo magnético para estimular estruturas cerebrais específicas; e a Estimulação Transcraniana de Corrente Continua que se utiliza de um aparelho com eletrodos, que gera uma corrente elétrica para estimular estruturas cerebrais. Ambas modalidades estimulam diretamente o cérebro, são procedimentos indolores e, praticamente, sem efeitos colaterais.

Estudos indicam, por exemplo, uma forte ligação entre a Doença de Alzheimer e a depressão, ambas de origem cerebral. De fato, mais de 50% das pessoas que sofrem de depressão tem alteração da memória. Estar depressivo ou ter tido depressão aumenta o risco de ter a doença de Alzheimer no futuro, principalmente se a depressão não tiver sido controlada. Vale mencionar o estudo realizado pela Erasmus University em Roderdã, Holanda, e publicado em 2016. Nele 3.325 pacientes, ao redor de 25 anos, que tiveram depressão durante 3 anos ou mais, tiveram cinco vezes mais chance de ter demência no futuro. O resultado apontou que 22% destes pacientes desenvolveram o Alzheimer. 

A depressão não controlada aumenta o envelhecimento cerebral. Este fato é demonstrado pela evidência de que 63% dos pacientes que tem quadro de pré-Alzheimer em estágio inicial da doença (Alzheimer) tiveram depressão. Isso ocorre porque ambos (o envelhecimento e a depressão) aumentam o estresse oxidativo cerebral. A soma de patologias cerebrais aumenta a chance de ter depressão e Alzheimer, pois o cérebro esta intrinsecamente e neurologicamente interligado. 

Um bom exemplo é o estudo publicado este ano, na American Stroke Association, pelo departamento de neurologia do Massachusett's General Hospital, em Boston. O estudo demonstra que 40% dos 695 pacientes que tiveram Acidente Cerebral Vascular Hemorrágico, desenvolveram depressão em cinco anos. Neste estudo, 80% dos casos que evoluíram com Demência tinham a depressão até um ano e meio antes do diagnóstico de demência. Daí conclui-se que a soma de patologias cerebrais, e mais a depressão, aumentam o risco de Alzheimer.

Resumo: A depressão deve ser vista de um ponto de vista mais profundo, compreendendo-se a sua neurobiologia. Além de aumentar as incapacidades funcionais como trabalho e social, quando não é controlada a depressão aumenta o risco de Alzheimer no futuro.  Técnicas de tratamento, como a neuromodulação cerebral não invasiva, são necessárias e devem ser difundidas para a população, para um melhor controle da doença e evitar complicações a longo prazo. 

Mestre em medicina (UFF), neurologista e nutrólogo com residência médica em neurologia pela UFRJ e nutrólogo com título de Membro titular da Associação Brasileira de Nutrologia  e Membro Titular da ABNEURO (Academia Brasileira de Neurologia). Tem especialidade no exterior em tratamento do envelhecimento pelo Cenegenics Medical Institute e tratamento da dor no Centro Médico da Universidade de Nova York (NYU Medical Center).