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Minha insônia

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Eu já estava preparado para comentar a situação obsoleta do sistema semafórico do Rio, amparada por entrevista com o professor da Coppe, Paulo Cesar Ferreira, quando aconteceu o terrível acidente rodoviário na BR-101, no Estado do Espírito Santo, km 450, próximo à localidade de Mimoso do Sul, ao que parece, já esquecido pela mídia.

Fiel ao sábio conselho do então redator chefe do JB, em 1968, quando comecei a ser colaborador em assuntos relativos ao trânsito, jornalista Alberto Dines, para que “escrevesse pouco para ser lido”, resolvi nada falar sobre a situação do controle semafórico do Rio, um absurdo técnico em pleno século XXI, e dedicar este espaço sagrado, para mim, no valente JB, agora digital.

Recebi pela internet minuciosa reportagem sobre este vergonhoso acidente, uma vez que, se tivessem lido o que postulo há anos, não teria acontecido, no qual tiveram o requinte até exagerado de publicar os retratos das 11 vítimas mortais deste sinistro. Todos jovens, no esplendor de sua idade, vítimas do desleixo que se instalou no controle do trânsito em todos os escalões. Não enxergam o problema e, como tal, não encontram a solução. Tão séria é a situação nesse setor que está a merecer um ministério, ou uma secretaria, só para este importante fator da vida de uma nação que mereça este nome. Não foi por acaso que o saudoso professor Hilton Gadred classificou o transito de “super função urbana”.

O assunto merece estudo e pesquisa constantes, a fim de que o responsável que mereça este nome pelo setor urbano ou rodoviário, mantenha-se atualizado, mal comparando, como o bom médico clínico precisa se manter atualizado e exigir a análise de laboratório. Para o correto diagnóstico, o engenheiro de tráfego deve exigir o controle estatístico, a fim de controlar a “doença” e curar o “doente.”

Lembro-me com saudades de que, quando tinha meus 8 ou 9 anos de idade, recebi de presente de meu pai um livro denominado “História do Brasil para crianças”, de autoria de Viriato Correia e que, em seu último capítulo, aparecia o sábio conselho sobre a figura de Ruy Barbosa: “Estudar sempre”. Serviu para mim como lema de minha vida. Hoje, sofro por este hábito, uma vez que são poucos os especialistas com quem posso dialogar, vítimas que são da falta de uma filosofia, para lhes orientar na difícil missão de controlar o trânsito urbano, principalmente onde o motorista é mal condicionado e vai morrer nas rodovias, onde a velocidade é bem maior e é, sem dúvida, a causa maior dos acidentes.

Nesta tragédia que, principalmente a mim, por me sentir incapaz de ter podido evitá-la, apesar de tentar nos meus escritos doutrinários semanais, fizeram-me perder o sono, só conseguindo dormir por volta das 5 horas da manhã, e assim mesmo às custas de remédio.

E por que esta reação tão estranha? Por sentir que se houvesse um controle estatístico, já teriam me dado razão na proibição da circulação de caminhões ou de, pior ainda, carretas, nos fins de semana ou feriados, face ao grande número de carros de passeio em busca do lazer.Na perfeição das estradas alemãs, as “autobahnen”, modelo para o mundo, onde na sua maioria possuem quatro faixas de rolamento em cada direção, em pistas separadas, onde a sua perfeição lhes permite não limitar a velocidade, é adotada, há mais de 40 anos, a proibição da circulação dos caminhões e das carretas nos fins de semana e feriados. Não poderiam estar ali circulando houvesse dedicação, com constante estudo, pelo seu desempenho dos responsáveis pela segurança das rodovias, e as carretas que provocaram o assassinato destes jovens e os nove feridos não estariam circulando, ainda mais que a BR 101 já não comporta em pista, criminosamente de dupla direção, o tráfego que recebe. Todos se recordam que esta mesma rodovia, no segmento para o sul, somente deixou de ser a “rodovia da morte” quando foi duplicada.

Quantas saudades do DNER de Eliseu Rezende e da Policia Rodoviária Federal a ele subordinada... Pedindo desculpas por este desabafo, legítima profilaxia contra os ataques cardíacos, fica o apelo para que prestem atenção às estatísticas de acidentes que, espero eu, existam, embora duvide de sua veracidade, em temos de exatidão.