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A originalidade cristã 

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A multiplicação dos lugares comuns sobre a religião cerceia a curiosidade verdadeira ou a pesquisa sincera. Segundo definição que se pode buscar à história e à filosofia das religiões, pode-se dizer que tradicionalmente uma religião propõe enquadramento completo da vida humana mediante normas que seguem a vontade divina. 

Donde a surpreendente regularidade e a grande solidez de sociedades onde desde sempre tudo está assente. Onde este sistema religioso impera, há que reproduzir a ordem escrupulosamente guardada pelos antepassados. O coletivo leva a melhor sobre o indivíduo, cuja sabedoria consiste na aceitação das regras transmitidas.

O cristianismo é uma religião; no entanto, tem por característica própria sair do universo religioso tradicional. Deus não é conhecido na sua vontade (ou em si) pela fidelidade, mesmo escrupulosa, à tradição dos pais, ou por gestos religiosos praticados desde tempos imemoriais. Não deve ser buscado no passado, mas na irrupção presente.

O Reino está no meio de nós; está, portanto, no presente histórico, podemos abrir-nos a ele (ou ignorá-lo), aqui e agora. A valorização do presente não pode fazer-se sem uma efetiva valorização de qualquer indivíduo. A originalidade cristã consiste em propor um Messias que triunfa pela sua própria derrota, que domina servindo.

Deus fez-se um de nós, para que nos tornássemos no que Ele é: essencialmente relação, permuta, doação. Propósito inacreditável que valoriza infinitamente nossa existência humana: mas não é o lugar de realização última de nossos desejos e expectativas, o que impede que idolatremos nossas realizações sociais, políticas ou culturais.

* Engenheiro