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Nas pegadas do amanhã 

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“Em geral, na natureza humana existe mais tolice do que sabedoria”.

Francis Bacon

A imagem de uma seta apontada para o que seria o leste é um artifício utilizado com certa frequência para ilustrar o que é comumente associado com a visão de progresso, algo que segue um ritmo predeterminado e inabalável. Tal percepção é fruto do que normalmente é chamado de visão moderna do mundo. Algo que acontece e, uma vez estabelecido, determina mudanças amplas e definitivas, incorrendo sobre o curso do desenvolvimento das técnicas, das artes, das ciências e das próprias instituições.

De certa forma, esta visão quase cega de um porvir glorioso e uma idade de ouro a ser realizada mascara e frustra as inquietudes, e, assim, desativa o potencial das forças de transformação e a necessidade de “ação” das gerações e o inconformismo com as eventuais mazelas do mundo, daí as explicações para a inação quanto à questão ambiental, o colapso climático, a destruição de tradições e a ausência de apego a símbolos de resistência, tais como as demandas sociais e o combate às desigualdades. 

O papel das ideologias e o aparato quase fundamentalista de determinadas seitas, normalmente apresentadas como variantes do conhecimento mais elaborado  e racional, escondem um espectro de elementos nada refinado, que dissimula um conjunto de sofismas e elimina os atalhos ao livre pensar, com efeitos anestésicos sobre o pensamento crítico e combativo. 

A internet, com sua ampla e feroz multiplicidade de atores, trouxe um elemento anárquico ao processo e tornou-se uma ferramenta poderosa para as ações iconoclastas, derrubando convenções e autoridades. 

Ocorre que todo processo que se anuncia “revolucionário” carrega uma forte dose de barbárie e terror, levando à vocalização e à reverberação com amplitude de opiniões e raciocínios despossuídos de reflexão, contudo carregados de ódio, raiva e mal-estar contra tudo e contra todos. 

Esse fenômeno se reproduz de forma perigosa no culto aos fatos alternativos e à propaganda de notícias falsas. 

Uma doença altamente contagiosa, cujo vírus carrega o núcleo de uma praga pior do que todas as pandemias do passado, pois implica na incapacidade do ser humano em discernir sobre a sua própria existência. 

O tema é complexo e de difícil compreensão, pois a percepção de uma parte da sociedade pode estar tão comprometida, que o anúncio da existência de “notícia falsa” pode ser entendido como uma “fake news”. Um complô contra suas crenças e uma artimanha deles: “os inimigos/infiéis”; aqueles, sim ,  seres portadores da verdadeira doença. 

De algum modo, o culto a crenças e visões particulares do mundo pode ser equivalente a uma dose constante de alucinógeno, no qual o contaminado passa a ser hospedeiro e agente de contaminação. Viciados em doses maciças da droga, precisando de uma forma de estímulo em quantidade cada vez maiores, fruto da necessidade constante de confirmação do valor de sua “escolha”, tornando-se, assim, ao mesmo tempo, uma vítima e um carrasco voluntário. 

Há esperança ou seremos condenados ao autoengano?

* economista