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Muito mal na foto

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Com o cabeçalho  "Cariocas passaram 164 horas presos no trânsito em 2016", na grande mídia, a empresa holandesa de tecnologia de transporte, Tom Tom, publicou o resultado de sua pesquisa sobre mobilidade urbana em 390 cidades de 48 países. O Rio ocupa o oitavo lugar no mundo como a mais engarrafada, sendo que os seus motoristas, cerca de 47%, trafegam mais tempo do que seria necessário, e 81% nos horários de pico, colocando-se em primeiro lugar  na América do Sul, seguida das cidades de Santiago do Chile e Buenos Aires. Fiquei feliz por ver que existe uma coincidência entre o percentual de tempo perdido nas horas de pico e o resultado que calculei do rendimento da malha viária, nos mesmos períodos, de 18%.

Cabe aqui uma pausa para inserir a minha observação constante de que “não me preocupam os que não veem a solução, mas principalmente com os que não veem o problema". Estão enquadrados nesta qualificação todos, sem exceção, os que militam na área de gerenciamento do trânsito  urbano. Julgam que o poder lhes dá a competência sobre o tema, quando é exatamente ao contrário. Lembro-me de uma observação de um velho professor da Escola Naval, que nos lecionava logo no primeiro ano do curso: “Na carreira que estão abraçando, a autoridade se impõe muito mais pela competência do que pelo peso dos galões que ostentem no punho”. Sábio conselho, infelizmente restrito a uma minoria privilegiada, parte da elite intelectual do Brasil.

Na análise holandesa, citam ainda os piores pontos de estrangulamento por eles classificados de “gargalos”, a saber: Avenida Brasil, Linhas Vermelha e Amarela, Zona Portuária e a Praça da Bandeira. Por coincidência, vias em que não me canso de alertar a necessidade de coibir, nos horários de pico matutino, o tráfego de caminhões, como fiz no meu tempo de “Rei”.

È com tristeza que faço aqui hoje este relato. A história vem de longe. Nos idos da década de 70, a Philips, famosa firma holandesa de produtos elétricos e eletrônicos, resolveu investir no Brasil, iniciando a venda de seus sistemas de controle semafórico, computadorizados, acompanhado o verdadeiro  perfil do tráfego, com informações reais “on line”, apoiando-se, em parte, como representante a empresa paulista, modesta mas com grande clientela. Esta editou, em português, um folheto elaborado pela gigante holandesa, com o título: ”A administração do tráfego urbano. A ciência esquecida”. Nele, apresentava, de maneira sucinta, como funcionava o seu sistema e enfatizava as suas vantagens. Em outras palavras, demonstrava como se poderia cumprir a regra básica da engenharia de tráfego, de “tirar o máximo proveito do sistema viário existente”. O limite desta utilização seria, naturalmente, a capacidade viária do sistema otimizado pela sua regulagem de escoamento. A solução simples e lógica, não adotada pelos atuais “especialistas”, é o Uso Racionado das Vias, o Sistema URV. Teimam ignorá-la ”por capricho ou presunção”, como se canta no fado “Perseguição”, ou pior ainda, por covardia política.

Enquanto não se otimizar o controle semafórico, e se racionar o uso das vias nas horas de pico, enquanto o metrô não chega, não existe a menor hipótese de se melhorar a nossa posição no “ranking” mundial das cidades engarrafadas. Quem viver, verá.