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A arte supera o preconceito

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Na época em que direitos fundamentais são vilipendiados e vicejam os atos de preconceitos e intolerâncias. Projetam-se muros para separar fisicamente os intolerados de uma sociedade egoísta. A arte cinematográfica nos leva a uma reflexão obrigatória premiando o filme que retrata em um só roteiro vários tipos de intolerâncias. Arrebatar o Oscar de melhor filme demonstra que a sociedade está com sede e fome de justiça. Uma criança negra, pobre, filha de uma viciada em crack luta contra a solidão da descoberta de ser gay. Sem pai, com mãe doente e ausente, sofre bullying escolar e toda forma de violência.

Onde menos se espera, porque o ódio traça um perfil criminoso de comerciantes de certo tipo de drogas, enquanto tolera a venda de outras drogas socialmente aceitas, essa criança encontra a figura do pai ausente, que o acolhe a “adota” aconselhando-o e cuidando como de um filho. No momento em que o Presidente da Nação mais poderosa do mundo repete o discurso nazista, do povo perfeito que não pode se misturar e fecham suas fronteiras construindo muros físicos, políticos e policiais, um cubano demonstra com esse acolhimento toda riqueza que pode ter um ser humano independente de ser ou estar criminoso.

Sobre adoção, também outro filme vencedor, Lion, trata do tema com rara felicidade. Um casal de australianos que poderia ter gerado seus próprios filhos opta por adotar indianos, oriundos de um país superpopuloso e pobre. Ama-os igualmente independente de suas diferenças. Mais um exemplo que a arte nos dá para nos aperfeiçoar.

Chiron, negro, pobre, gay, filho de uma viciada foi o protagonista dessa história de amor e superação venceu seus concorrentes com o talento de seu elenco investindo um valor irrisório diante das milionárias superproduções que não transmitem com a mesma competência tanta sensibilidade. O Papa Francisco, contrastando com o ódio que alguns líderes políticos estão plantando no Planeta, diz o quanto é importante construirmos pontes. Esse filme construiu várias pontes para nos levar a união e o respeito a todas as nossas diferenças. Que sejamos capazes de aprender com a arte e façamos da ponte da tolerância um caminho de uma humanidade mais fraterna.

*  desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a democracia.