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O carro adiante dos bois?

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Como sempre, procuro alguma noticia durante a semana que passou que permitam a minha análise, no sentido de esclarecer o público leitor, alguns dos quais me acompanham há quase meio século. Nesta semana foi a notícia em destaque na grande mídia do abandono da exploração correta das áreas de estacionamento, nas vias trafegáveis. Os responsáveis anunciaram uma breve concorrência, a fim de solucionar a falha na qual “deitaram e bordaram” os “flanelinhas’, que eu considero os “camelôs do trânsito”. O pior é que existe, quase sempre, um entendimento fraudulento entre eles e o policiamento, com gratificação semanal. Mas nada disto é prioritário quando está ausente, tanto quanto eu saiba, a orientação técnica da engenharia de tráfego sobre os períodos de tempo a serem estabelecidos, se de longa o de alta rotatividade, os preços, que não devem ser os mesmos, dependendo da área a ser explorada, e outros fatores menos votados.

Todo engenheiro de tráfego que faça jus ao título sabe da importância da localização e do tipo de estacionamento, em relação ao destino dos motoristas, com forte influência na escolha de suas trajetórias, rumo ao centro comercial que, em linguagem técnica se chamam “linhas de desejo”. Nunca é demais repetir a genial definição do meu saudoso amigo, e às vezes conselheiro, o arquiteto Sérgio Bernardes, quando disse: “O carro é a extensão das pernas, e o motorista, assim que pode, ao chegar ao seu destino, procura se livrar dele. Se possível, estacionando-o legalmente.”

Que eu saiba, somente uma vez, nos idos de 67, na minha gestão à frente do Detran GB, tentando civilizar o trânsito selvagem e atrasado então existente, ignorando os ditames do urbanismo e do aspecto social, criamos, tal a sua importância, uma Comissão de alto nível para regulamentar o assunto. Constituía-se de especialistas e de interessados no assunto como, por exemplo, a Associação dos Lojistas, a Associação Comercial, etc. Chamou-se de COESES, ou seja Comissão Especial para o Estacionamento, a presidi-la o saudoso engenheiro Armando Hinds, então Presidente da FUTREG, Fundação dos Terminais Rodoviários da Secretaria de Serviços Públicos, que já explorava alguns estacionamentos e os dividia com a Associação dos Guardadores Autônomos. Já tínhamos o cuidado de, respeitando o que ocorria em todos os países do Primeiro Mundo, empregar como guardadores idosos ou deficientes físicos, eliminando a tentativa desumana do governo anterior de recrutar estudantes. Constituíam esta importante Comissão urbanistas, representantes do Clube de Engenharia, do Instituo dos Arquitetos do Brasil, engenheiros de tráfego e representantes de setores interessados. Eu, diretor geral do Detran, fiz questão de ficar de fora, reservando-me a aprovar as decisões ou não. Graças a este estupendo trabalho, nasceu o sistema de controle por Disco de Estacionamento, copiando Paris, a cidade pioneira em usá-lo. Ao levar, todos os membros da COESES ao governador Negrão de Lima, a fim de que ele tomasse conhecimento daquela autêntica revolução de costumes, ouvi dele o seguinte elogio: “Parabéns por este trabalho civilizado”.Também surgiu deste estupendo grupo de trabalho, o plano para edifícios garagens e garagens sob as praças, do qual apenas o Edifício Menezes Cortes vingou.

Espero que o atual Secretário Municipal de Transportes, professor da PUC, intervenha nesta aberração, um autêntico caso do “carro adiante dos bois”, aproveitando esta preciosa oportunidade de poder ordenar ou, ao menos orientar, o destino dos veículos particulares que, ao centro comercial se destinem, preservando a circulação no seu interior, hoje, bem confusa.

A propósito, que tal construir, pela iniciativa privada, um estacionamento subterrâneo na praça fronteiriça ao Aeroporto  Santos Dumont? O VLT faz ponto final ali, e retiraria uma grande quantidade de carros que hoje circulam pelo centro comercial, em busca de local para estacionar, mesmo irregularmente? Já não me atrevo, “por ser o ótimo inimigo do bom”, sugerir instalar painéis eletrônicos informando onde existem edifícios garagem e qual a sua disponibilidade de vagas existentes, há mais de trinta anos, na Europa. Se o Rio quer incrementar a sua vocação turística, é melhor começar a considerar a importância do trânsito que é feito pelos motoristas, que precisam ser orientadas por profissionais, a fim de fazerem corretamente o seu papel no dizer do saudoso Professor Hilton Gadret: No trânsito, a Super Função Urbana.