ASSINE
search button

'Pecado', em país de políticos mentirosos, é não mentir

Compartilhar

Delfim Netto, 88 anos anos, de saber notório, economista dos mais proeminentes do país, da maior biblioteca do país cedida por pessoa física para instituição acadêmica -- a Universidade do Estado de São Paulo -- com mais de 150 mil livros e publicações, todos lidos e por ele grafados, teve mais de mil artigos publicados, nos quais estudou desde toda informação disponível sobre Marx até os economistas brilhantes, é titular de um escritório de assessoria econômica chamado Ideias, que presta assessoria há muitos anos. Não tem mandato político, não tem cargo público, não aceitou quando convidado a ser presidente do Bradesco pelo Sr. Amador Aguiar. 

Hoje, com toda a dignidade que sempre teve, não negou ter recebido valor em dinheiro. Se lhe faltasse dignidade e caráter, se negasse ter recebido dinheiro, seriam palavras. Qual o crime dele? Com imposto de renda.

Como economista, Delfim Netto tem o direito de trabalhar. Aos 88 anos, ele não tem o direito ao recesso milhardário. Não possui crime que envergonhe o país. 

São bancários que corrompem para não pagar Imposto de Renda, são empreiteiros que corrompem para superfaturar e destruir o Brasil como este vem sendo destruído. O crime é de empresários que corrompem o Carf para não pagarem Imposto de Renda. O crime é de políticos que sempre, quando denunciados de receber dinheiro ilegal em espécie, dizem não ter recebido. E são fartas as acusações, que acusam homens importantes. 

O país vive um novo momento de sua identidade moral, é verdade. Estamos assistindo não ao fim de uma crise moral, mas, talvez, ao início, no qual acusações como essa sejam apenas cortina de fumaça para as grandes acusações que ainda estão por vir. 

Nesta semana mesmo, em reportagem de revista de grande circulação no país, foi noticiado um escândalo ao público que, mais uma vez, mostra que a CPI do Grampo feita há quase 20 anos não teve a eficácia que precisava ter tido. A matéria, esta sim, se verdadeira, envolve o poder público e parte forte do empresariado nacional.

Para um país em que homens públicos mentem, Delfim talvez tenha "pecado" por não ter mentido. 

Delfim não é homem público e pode receber quantias muito maiores do que essa, que nos parece modesta, pelo que se sabe. Imagina quanto cobram os grandes advogados que defendem os criminosos da Lava Jato. 

O que Delfim fez foi um projeto no qual o custo da montagem foi reduzido em quase 200% para os cofres públicos.