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A vida é um dom de todos 

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A morte da médica assassinada ao voltar do trabalho deve ser pranteada por todos os humanos, sobretudo por se tratar de uma pessoa boa focada em fazer o bem para os mais necessitados. Todos lamentamos a morte dessa e de outras vidas ceifadas prematuramente pela violência do cotidiano. A morte violenta e prematura da médica foi chorada por seus mais próximos e por todos que valorizam a vida humana como um dom inviolável.

Ora essa é a reação natural de toda sociedade civilizada e solidária. Mas há aqueles que pensam diferente e atribuem à vida uma escala de valores. Como os que assim se manifestaram: "Não. Não haverá passeata. Não haverá manifestação. Pneus não serão queimados. Vias não serão fechadas. BRTs não serão quebrados. Sabe porquê? Porque Ela não morava em "comunidade". Não era uma "pobre coitada". Não era "vítima da sociedade ou do capitalismo". Não fazia parte das "minorias"."

Lamentável esses comentários que demonstra uma escala hierárquica de valorização da vida. Finda a vida todos viramos pó, não importa a classe social, cor da pele ou preferência sexual. Então porque nos fazemos desiguais enquanto vivos?

O fato de uma pessoa ser mais ou menos produtiva, pode contar numa sociedade de consumo, onde tudo, inclusive a vida, tem seu preço, mas não pode ser motivo de escala na valorização da vida. Pensar que um cidadão vale mais que o outro pela quantidade de impostos que arrecada é medir o ser humano com a régua dos exploradores e violadores dos direitos humanos. Atenção, eu disse direitos humanos, antes de se excluir pense em que categoria se enquadrara caso rejeite ser sujeito dos direitos humanos.

Nossa sociedade tem por vocação e obrigação constitucional a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica de todas as controvérsias. Não há, portanto, como separar as pessoas entre cidadãos produtivos e inúteis, beneméritos e perniciosos uma vez que a felicidade só será alcançada quando não houver injustiça social e qualquer tipo de desigualdade econômica, além do respeito entre os diferentes.

* desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a Democracia.