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A geometria e o trânsito urbano

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As cidades alemães do pós-guerra, em face de sua destruição em retribuição aos bombardeios com os quais a Luftwafe arrasou Varsóvia, Roterdam, Coventry, Londres e várias outras cidades inglesas, teve a oportunidade de reconstrui-las considerando a presença do “urbanista anônimo”, o automóvel. 

Estabeleceram uma série de três anéis de tráfego, em torno do seu centro comercial, criando no seu núcleo uma imensa zona de pedestres (Fussgägen Zone), com o inteligente “slogan”: “Devolução da terra ao seu legítimo dono, o homem a pé”. Elegeram nas áreas centrais, onde existia a vocação para criação destas áreas, aonde o carro não poderia entrar, áreas amenizadas com um paisagismo acolhedor e capaz de criar um verdadeiro oásis para o homem a pé. Ao contrário do eu agora assisto, e alertei para o risco, do que criaram na nova Avenida Rio Branco, impondo uma área de pedestres em um local sem a menor vocação para este status e, pior ainda, sobrecarregando o tráfego já pesado da Avenida Passos.

O tempo, o “senhor da razão”, me dará razão, ou não. Vamos esperar o seu julgamento. Até agora, em pesquisa minha junto aos taxistas, a opinião deles empata cem por cento com a minha. Com dizia o legendário diretor de Trânsito do Rio, Dr Edgard Estrela: “Não se administra o trânsito sem o apoio da opinião dos taxistas.” Estão na contramão da lógica ou, se preferirem, do bom senso.

Na geometria do trânsito, na engenharia de tráfego, estabelece, para preservar a mobilidade do CBD (Central Buzines District), o centro de comércio, as vias secantes e as vias tangentes em torno da área a ser “by passada” pelo tráfego que a ela não se destina e os que a ela se destinam. As vias secantes, normalmente classificadas como “coletoras”,  a sua velocidade limite é de 40 km. Nas tangencias, de trânsito rápido ou expressas, com as velocidades limites, respectivamente, de 60 e de 80 km. 

Confirmando meu raciocínio, fruto do que aprendi com quem sabe, a recém-inaugurada via subterrânea, Túnel Prefeito Marcelo Alencar, vem ser a via tangente que faltava para, com os túneis Rebouças e Santa Bárbara, além da Avenida Passos, resguardar o CBD do tráfego de passagem, tangenciando-o.

Como é fácil de entender para quem estudou geometria, como o Rio é, felizmente, uma cidade longilínea, tendo o seu flanco Este defendido pelo mar, não teve a sua circulação planejada em anéis concêntricos, como em São Paulo fizemos, mas recorreu à geometria do uso de secantes e tangentes. Neste complexo, que me desculpem os sábios técnicos de urbanismo municipais, mas a Avenida Rio Branco deveria ser incluída como secante, principalmente para o grande auxiliar do transporte público, o táxi, jamais interrompida.

Se querem criar uma área de pedestres, como fizemos em 1975, que seja a que já existe no entorno da Rua Sete de Setembro, que mereceu, na ocasião crônica de nosso poeta maior Carlos Drummond de Andrade, intitulada”Quadrilátero Ameno”, agora ameaçada pelo “estupro” da colocação, em duplo sentido de circulação, dos silenciosos VLT, que ali merecerão rapidamente o apelido carioca de “Veiculo Letal sobre Trilhos”.

Embora reconheça que o que aqui analisei, tentando alertar ao bom senso, deve prevalecer sobre a vaidade e a inexperiência, nada irá mudar, a não ser com os acontecimentos prejudiciais aqui previstos. E aí, infelizmente, será tarde demais, em face da possibilidade de acidentes fatais.