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Esporte para o Desenvolvimento Humano

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Encontro com os líderes religiosos

22 de junho de 2016

Sede do Comitê Olímpico Rio 2016

Saudações.

Estamos nos aproximando dos Jogos Olímpicos Rio 2016 e dos Jogos Paralímpicos.  Sabemos quão importantes serão estes dois eventos para a nossa cidade maravilhosa. Eles nos fazem refletir no que diz respeito à importância do esporte ou dos esportes para o desenvolvimento do ser humano. O esporte possui um grande potencial de socializar indivíduos das mais diferentes classes, religiões, gêneros, entre tantas outras diferenças presentes na nossa sociedade. Através de uma partida de futebol na rua, de um jogo de vôlei na escola, um jogo de basquete na praça, pessoas se relacionam, fortalecem amizades, criam vínculos mesmo sem nunca terem se visto. A importância da prática esportiva em nossa sociedade vai além dos benefícios na saúde física do homem. “É possível perceber-se o desenvolvimento das relações socioafetivas, a comunicabilidade, a sociabilidade, ajustando socialmente esse homem ao meio que vive” (BURITI, 2001, p.49).

Recebe o nome de esporte as atividades físicas realizadas por pessoas que se submetem a regulamentos e participam de competições. A prática de esportes beneficia grandiosamente as pessoas e até mesmo a sociedade, pois reduz a probabilidade de aparecimento de doenças, contribui para a formação física e psíquica, além de desenvolver e melhorar tais formações. Na adolescência, os jovens são influenciados pelo consumismo, problemas psicológicos, hábitos prejudiciais e outros que também influenciam as demais faixas etárias, gerando conflitos internos que desviam valores e aprendizagens antes obtidos. É neste processo que o esporte mostra sua grande contribuição à sociedade. 

O esporte é uma importante arma social para melhor desenvolvimento da nação, visando a aproximar os povos e fazer com que estes exercitem não somente o corpo, mas também a mente, para que possam obter resultados mais expressivos na sua vida, seja ela profissional, estudantil ou dedicada ao lazer. Segundo a definição do dicionário Houaiss, “esporte é a atividade física regular, com fins de recreação e/ou manutenção do condicionamento corporal e da saúde”. 

Amanhã estaremos inaugurando os 100 dias de Paz! Uma tradição da Grécia antiga, que nos recorda que a disputa esportiva pode nos ajudar nos relacionamentos humanos e sociais. Seria muito bom se pudéssemos, utopicamente com um decreto de trégua de paz, fazer respeitar o tempo dos jogos olímpicos sem guerras e sem violência. E que isso pudesse ser de tal forma bem-vivido que as pessoas quisessem continuar no clima de paz e fraternidade, respeitando a diversidade de ideias, religiões, partidos, opiniões. Embora esteja a menos de 50 dias do início dos Jogos Olímpicos e sabendo que a trégua olímpica termina 50 dias após os jogos paralímpicos, e que, portanto, serão muito mais que 100 dias, a nossa contribuição quer fomentar um momento em que sintamos “saudades da paz” e a vivenciemos e trabalhemos por ela em nossos dias. Claro que isso supõe justiça social, respeito nos relacionamentos e, para nós, uma sadia e equilibrada participação na dimensão espiritual. Por isso, conclamo os líderes religiosos e políticos para que o grande legado das Olimpíadas seja a unidade e a paz.

A sociabilidade, ou seja, a troca de vivências, enriquece nossa vida, nos faz enxergar para além de nós mesmos. Ajudar um companheiro, desafiarmos nossos limites, superar obstáculos são alguns dos acontecimentos vivenciados durante a prática esportiva. Mas, infelizmente, em muitos centros urbanos estas vivências estão cada vez mais raras, por diversos fatores: violência, falta de espaços adequados, trabalho infantil ou na adolescência, como também a presença do mundo virtual na sociedade de hoje, que afasta as crianças de atividades esportivas para deixá-las horas em frente ao computador em jogos, redes sociais e sites de relacionamento.

O esporte pode intervir na realidade da sociedade ao demonstrar que, durante um jogo ou uma aula, todos são iguais. Existe a autoridade no jogo, o juiz ou o professor que faz cumprir as regras e, no restante, todos os participantes são iguais, ganhando aquele que souber ser mais habilidoso, mais inteligente, o que treinou com mais dedicação e não por ter alguma vantagem fora do jogo, tornando o jogo desigual. Rubio (2001) comenta que na Europa e nos Estados Unidos o esporte está sendo reconhecido não só como uma atividade saudável para quem compete, mas principalmente porque o esporte está sendo visto como uma oportunidade de engajamento das pessoas na reflexão e na discussão sobre os valores e as relações sociais.

A atividade física e o esporte podem ser ferramentas importantes na educação para valores por diversos fatores, entre eles seu caráter lúdico e gerador de diferentes experiências, o caráter de superação e cooperação, a interação interpessoal que estes promovem e também pela presença constante de conflitos. É a partir, principalmente destes conflitos que podemos introduzir noções de valores positivos, considerando que o desporto pode também, se não bem orientado, desencadear valores não desejáveis, como agressividade, exclusão, desprezo, obsessão pela vitória etc.

A prática esportiva é uma ótima ferramenta no combate à ociosidade, em reforçar a autoestima, na manutenção de uma vida saudável, no combate ao surgimento de doenças, no controle do peso, na busca de objetivos e como estímulo ao contato com outras pessoas, estimulando o coletivismo. Atividades físicas são indispensáveis para uma vida saudável, e na adolescência não pode ser diferente, pois é uma fase em que acontecem grandes mudanças físicas e psicológicas.

Cada esporte possui suas particularidades, que envolvem as pessoas e as fazem optar por qual praticar. Os esportes influenciam no desenvolvimento saudável dessas e os distanciam da mentalidade distorcida que hoje se prega no mundo, e ainda faz com que as pessoas se afastem da criminalidade, que está presente em todos os locais de forma bastante organizada e sedutora.

A Igreja, justamente sabendo que o esporte ou os esportes são de suma importância para sociedade, desenvolve a Pastoral dos Esportes e incentiva todos a viverem aquela máxima: “mente sã, corpo sadio”, ou vice-versa. Para valorizar ainda mais o momento que vamos celebrar: as Olimpíadas e a Paraolimpíadas. 

Como Católicos, a nossa responsabilidade está em saber acolher bem e aproveitar este espaço como um campo para a nova Evangelização. Porque é desafiador o tema, é desafiador o contexto, ou seja, estamos falando do maior evento esportivo do mundo e que, no Rio de Janeiro, com certeza será o maior da história pelo número de atletas, de turistas e até modalidades esportivas. Dentro do Comitê Organizador da Rio 2016, o Centro Inter-religioso da Vila dos Atletas – que funcionará por quase dois meses – será organizado pela Igreja Católica do Rio, mas, ao mesmo tempo, a serviço dos atletas de todas as religiões. Estaremos em contato, principalmente, com o judaísmo, o budismo, o islamismo, o hinduísmo e demais religiões. Um modo de organizar o serviço corrente da Vila porque, pelo conceito, a Vila dos Atletas é casa deles e, por isso, deve oferecer de um tudo, inclusive o aspecto religioso.

Portanto, a Arquidiocese do Rio de Janeiro assume, através do seu capelão, o trabalho de coordenação inter-religiosa dos eventos na Vila Olímpica e, como em toda a cidade, trabalharemos para que com a escuta, acolhimento e participação necessários para este tão rico momento de encontro, onde vários atletas do mundo inteiro estarão aqui para celebrar o maior evento dos esportes na face da Terra, queremos contribuir pela paz em nosso planeta. 

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ