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De volta ao passado

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Os traidores da pátria não esperavam por essa. Pouco mais de seis dias como presidente interino, Michel Temer, que assumiu num golpe que rasgou dramaticamente a democracia em nossa História, a bolsa caiu e o dólar disparou. Enquanto os primeiros passos dos golpistas vão sendo dados em tragédias atrás de tragédias, outros países e imprensa internacional vão percebendo o que ocorre por aqui, denunciando quase que diariamente.

Basta pegar as primeiras medidas adotadas por Temer logo após assumir provisoriamente a caneta presidencial. Extinção de diversos ministérios e secretarias que tinham como finalidade dar protagonismo às diversas faces de nossa sociedade, carentes historicamente de políticas públicas. É o caso da secretaria das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, e pastas como a secretaria nacional de pessoas com deficiência, eliminando mais de 40 milhões de brasileiros da discussão sobre o tema.

Além disso, desvinculou os orçamentos da saúde e educação da Constituição, desfazendo o piso criado como conquista histórica dos movimentos sociais. O novo ministro da Saúde, Ricardo Barros, também deu o tom da gestão em curso ao dizer que o SUS poderia ser reduzido para beneficiar os planos de saúde, acabando com sua universalidade. Esse pensamento atrasado é uma ponte para o passado, numa discussão que travávamos no início da década de 90, no fim da Era Collor e início do governo FHC.

A desconstrução do Ministério da Previdência também é absurda, como parte deslocada para a Fazenda, na perspectiva de beneficiar o mercado financeiro e acelerar a reforma com objetivo de atender a uma “planilha de custos”.

Esta é a cara do governo golpista. Adotaram uma marca vazia e ilusória, baseado no “Não reclame, trabalhe”, como se apenas um slogan fosse dar cabo da geração de emprego e renda que nosso país precisa. É extrema a falta sensibilidade e competência deste grupo que tomou o poder baseado em mentiras e boatos, alinhados com a Grande Mídia e o capital.

O ápice dos retrocessos surge na extinção do Ministério da Cultura, – veja a ironia do destino – que teve como figura expoente o peemedebista Celso Furtado, na década de 80 e que fora limado apenas por Collor. Sem diálogo algum com os setores culturais e da sociedade, Temer pôs abaixo um dos maiores alicerces de nossa democracia e identidade. Fica evidente a visão autoritária, discricionária e atrasada deste governo.

Sob grandes vaias, cria-se às pressas uma secretaria, espécie de “puxadinho da Cultura”, com parco orçamento e representatividade, na tentativa de por uma mulher para gerir. Diversas personalidades femininas disseram um sonoro não ao presidente interino. Isso mostra a falta de legitimidade do governo golpista dentro da sociedade e o mundo artístico.

É lamentável também que alguém vinculado à gestão da cultura tenha assumido este espaço, sendo assim conivente com este modelo contestado por toda a sociedade brasileira.

A resposta do povo tem sido rápida. As diversas ocupações que se espalham pelos prédios públicos do MinC no Brasil mostram que não haverá trégua com aqueles que usurparam a democracia de nossa nação. Pouco a pouco, Temer vai percebendo que seu governo não governará e que a sociedade não permitirá que toda essa mentira siga incólume. Há um grande caldeirão social prestes a explodir e os golpistas mal sabem o que lhes espera.