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Meu voto e o futuro

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Vou votar domingo com o coração apertado. Nada a ver com o cargo que ocupo na Secretaria Geral da Presidência. Independente do resultado, talvez seja o momento, depois de 12 anos, governos Lula e Dilma (nunca na vida, já não tão curta, fiquei tanto tempo no mesmo lugar), de deixar a secura de Brasília e voltar às chuvas do Rio Grande, e ao trabalho de base e à educação popular na ponta.

O coração apertado tem a ver com o futuro do Brasil e do seu povo, a ser decidido no voto de brasileiras e brasileiros dia 26.

O Brasil é hoje um país de referência internacional. O que acontece aqui tem reflexos na América Latina e Caribe, na construção de uma articulação com os BRICS e nas relações  multilaterais. Recentemente, em Assembleia do CEAAL (Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe), em Quito, todos perguntavam e queriam saber sobre o processo eleitoral brasileiro, as consequências além fronteiras, se o resultado eventualmente for um retorno ao pensamento neoliberal.

São projetos de Brasil em debate. São reformas estruturais que se colocam mais uma vez na possibilidade e no horizonte em jogo: reforma política, reforma tributária, reforma agrária, reforma do Estado.

As reformas de mudança estrutural ainda não aconteceram no Brasil de sociedade desigual e Estado patriarcal e coronelista. Nos anos 1950, em meio a conquistas dos trabalhadores, de criação da Petrobrás, setores conservadores se uniram, convalidados por setores da grande mídia, e levaram ao suicídio de  Getúlio Vargas e a uma grande comoção nacional. Nos anos 1960, movimentos de trabalhadores sem terra, movimentos de educação popular, movimentos estudantis, movimentos culturais clamavam e se organizavam pelas ‘Reformas de Base’. A reação conservadora à mobilização popular resultou no golpe militar e numa longa ditadura de 25, anos, de novo patrocinados por setores conservadores e grande parte da grande mídia.

Conquistou-se na luta a redemocratização, com as grandes greves (ABC com Lula, bancários com Olívio Dutra), as oposições sindicais e o movimento sindical combativo, as ocupações urbanas e rurais (MST e os movimentos populares urbanos), as Diretas-Já, o processo da Constituinte, a eleição de um operário, a eleição de uma mulher. O Brasil começou a mudar. Os mais pobres e os trabalhadores passaram a ter espaço, oportunidade, vez e voz pela primeira vez na história. O mercado interno de massas passou a ser prioridade, com apoio à produção e ao empresariado nacional. As políticas públicas são feitas com participação social e popular.

Mas as reformas estruturais ainda estão por ser feitas. De primeiro a sete de setembro de 2014, quase oito milhões de brasileiras e brasileiros votaram no Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana sobre o Sistema politico e milhões aderiram ao Projeto de Lei de Iniciativa popular da Reforma Política, exigida por amplos setores da sociedade brasileira, para que a democracia se fortaleça, assim como o protagonismo popular.

A escolha de cada um e cada uma, o voto de cada um e cada uma para presidente no domingo coloca em xeque opções e prioridades. Como será tratado o povo pelo futuro governo? Será ouvido? A participação social será método e prática de governo? O Estado estará mais a serviço do privado, até do pessoal, ou estará prioritariamente a serviço do público e do coletivo? O enfrentamento da desigualdade social e econômica estará no centro do debate da sociedade? O caminho das reformas estruturais estará no horizonte próximo?

Meu coração apertado tem, pois, todas as razões do mundo. Um voto sozinho não muda o mundo. Assim como o sonho sonhado sozinho não leva a lugar nenhum. Mas milhões de votos e sonho sonhado por muitos organiza vontades, desenha o futuro. Se for para explodir, que meu coração não exploda de tristeza, porque as Reformas de Base mais uma vez foram jogadas para as calendas gregas. Mas exploda de alegria e festa, porque o futuro e o horizonte estão mais perto do meu nariz e do meu desejo.

Bom voto, e consciente, a todas e todos!


*Selvino Heck, assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República