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Depois de várias décadas de globalização

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Há diversas formas de violência, mas o denominador comum consiste na força física ou psicológica que se exerce sobre alguém. A violência é a violação do outro, em cada uma das suas dimensões: violência sobre o corpo, sobre a presença social, sobre a intimidade, sobre suas ideias, sobre suas crenças.

Não deixa de ser significativo que a violência coincida com a supressão de toda distância. Já a distância que se guarda opõe o respeito à violência. É preciso estar atento para saber encontrá-la. Não vê mais quem corre mais ou quem mais se move, e sim aquele que for mais capaz de estar atento.

Entretanto, o ímpeto excessivo de prestar atenção tem um efeito totalmente contrário ao desejado. O conhecimento propriamente dito procede de um olhar atento e sistemático na direção adequada. A atenção nos conecta com o mundo à volta, e essa conexão é a melhor vacina contra slogans e ideologias.

Foi em relação às violências da Revolução Francesa que se contrapôs a liberdade dos indivíduos. Com a queda do Muro de Berlim sonhou-se com uma comunidade mundial construída pelo processo de agregação individual, em que cada consumidor iria se juntar aos circuitos da economia global.

Cumpre resistir à tentação de construir um indivíduo universal que reduziria a vida democrática a um exercício de matemática, no qual a soma algébrica das escolhas individuais toma o lugar da discussão democrática. A globalização realmente nos obriga a retomar a reflexão sobre a liberdade, sobre os seus fundamentos, sobre as instituições que garantem seu exercício e sobre os seus limites.

A crise de 2008 foi reveladora dos perigos que se encerram na redução da comunidade política a uma comunidade de mercado. Pôs em evidência a necessidade de se construir novas instâncias entre o indivíduo e a globalidade. Um dos principais obstáculos ao desenvolvimento é a fraqueza das comunidades, desestruturadas pelo choque provocado pela economia moderna nas economias tradicionais.

Depois de várias décadas de globalização, como sentir-se seguro da própria identidade para poder aceitar ter várias outras e, ao mesmo tempo, não se deixar fechar na solidão dos interesses privados?

*Tarcisio Padilha Junior é engenheiro