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E depois?

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O general Douglas McArthur é autor de um texto  em que define a juventude como sendo um efeito de vontade, uma qualidade de imaginação. Ele dizia que o jovem é aquele que desafia os acontecimentos e encontra alegria no jogo da vida. As provas o galvanizam, os fracassos o fazem mais forte, as vitórias o fazem melhor. É aquele que pergunta “e depois?”..

Fiquemos com a pergunta e recordemos Santo Agostinho. Diz a história que Agostinho era um jovem rico, culto, de ótima aparência e que gostava das boas coisas da vida. Um dia, conversando com um padre, ele começou a falar dos seus planos, de seus anseios; e, a cada colocação que fazia, o padre respondia com uma pergunta repetitiva: e depois, e depois?. E quando disse que ficaria velho, o padre repetiu a pergunta, e ele ficou sem mais argumentos.

Agostinho mudou completamente a sua vida, a ponto de ser santificado pela Igreja  e ter se transformado em um dos mais importantes pensadores do catolicismo. É evidente que a mudança ocorreu quando ele teve que responder à última pergunta, e definir o derradeiro porquê, aquele que significaria a mais importante de todas as respostas.

Sei que a abertura do texto foi longa, e o motivo é simples: vou trazer a pergunta para os nossos dias, quando o país se prepara para o mais importante evento esportivo mundial, a Copa da Fifa. Reitero a autoria do espetáculo, “da Fifa”, porque, além de detentora de todos os direitos, é ela quem sairá com os louros e os lucros do espetáculo, enquanto caberá a nós apenas o custo e os ônus da festança.

Sem a preocupação em mostrar a característica do jovem de McArthur, nem a insistência do sacerdote que instigou Santo Agostinho, sejamos mais contundentes: E depois? O que fazer com as tais arenas “padrão Fifa”? Não se discute que a maioria dos nossos estádios precisava de uma reforma. O que contestamos é o que foi gasto na construção de estádios. Não é de se aceitar que um país com as nossas carências se comprometa a promover um evento desses, gastando mais de trinta bilhões, que poderiam ser aplicados em segurança, saúde, transportes, educação, saneamento básico.

E depois da Copa, o que faremos com os elefantes brancos construídos a peso de ouro? Quais desses estádios terão condições de justificar os investimentos ali aplicados? Talvez três ou quatro, e nada mais. E mesmo somando o pblico de todos eles, nada justificaria os gastos. E como consequência, depois da euforia, teremos tempo de sobra para o arrependimento. E não há Santo Agostinho que nos fará mudar de opinião.

* Vitor Sapienza, economista e agente fiscal de rendas aposentado, é ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo. - www.vitorsapienza.com.br