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O verdadeiro diálogo

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Numa sociedade orientada pela dinâmica das redes, a evidência do grupo tradicional desapareceu, o único vínculo é funcional, através de uma profissão ou especialidade. Onde tudo tem uma função, mas nada tem sentido, a religião torna-se doravante a única restrição livremente aceita e até desejada.

Quando o ser humano experimenta a solidão, percebe ao mesmo tempo o quanto toda a sua existência é um anseio pelo outro, mas aquele outro absoluto que mergulha nas profundezas do próprio eu. Nele, pode surgir a proximidade da alegria absoluta que está por trás de todo encontro humano.

O verdadeiro diálogo não se realiza quando homens e mulheres falam apenas sobre alguma coisa. O diálogo só se torna autêntico quando eles já não tentam dizer algo, mas dizer a si mesmos. Ser humano é ser com os outros em todos os sentidos da existência, não apenas no respectivo presente.

Constatamos que o ser humano não é capaz de realizar por si o que é verdadeiramente essencial. Nossa relação com Deus não pode basear-se em projeto nosso ou em conhecimento especulativo, exige aceitar sua presença entre nós, que vem ao nosso encontro como algo que precisa ser recebido.

Cristo convida o ser humano a segui-lo, a tomar a cruz como ele o fez, e superar o mundo. É a radicalidade do apelo a cada um, que é único de verdade e por isso deixa de ser somente para si. O ser humano não chega verdadeiramente a si próprio por meio do que faz e sim por meio do que recebe.

O ser humano só existe como tal na linguagem e na comunicação social. Daí que a fé não se fixa numa origem que ficou atrás de nós no tempo; ela é a própria mão estendida da esperança no futuro. 

* Tarcisio Padilha Junior é engenheiro.