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Bolsa Crack

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O Brasil, definitivamente, é o país número 1 em bolsas de caráter social. Não temos escolas, educação, saúde, hospitais, segurança pública, presídios, enfim, nada que nos traga a mínima sensação de que temos um governo preocupado com os cidadãos de bem e pagadores de impostos. Por outro lado, somos o país do futebol, dos grandes estádios, que agora chamam de arenas, dos políticos desonestos, do crime organizado, do contrabando de armas, da corrupção descarada, da impunidade, do descaso com a vida, e assim por diante. Somos os campeões do samba, do Carnaval, do futebol, das piadas, da violência, das filas e do mau atendimento público. Também somos os campeões dos programas sociais e das bolsas.

Temos Bolsa Família, Bolsa Verde, Nossa Bolsa, Bolsa Estiagem, Bolsa Escola, Auxilio Reclusão (Bolsa Preso), Bolsa Remédio, Auxílio Gás, Brasil Carinhoso, Bolsa Maternidade, Minha Casa Minha Vida, Bolsa Pipa (caminhões de água), Fome Zero, Projeto Casa Brasil, Fundo de Amparo ao Trabalhador, Programa Internet para Todos, Luz para Todos, e por aí vai.

Agora, no estado de São Paulo, foi instituída a Bolsa Crack, para as famílias que têm viciados em casa. Chamada pelo governo de Cartão Recomeço, mas já conhecida como Bolsa Crack, vai pagar R$ 1.350,00, por mês, para custear o tratamento do dependente. Esse programa já existe em Minas Gerais, com o nome de Aliança pela Vida, pagando módicos R$ 900,00 por mês. O dinheiro sairá do orçamento da Secretaria do Desenvolvimento. O próprio governador Geraldo Alckmin explicou que não se trata de um cartão para internar o doente e, sim, um cartão social.

Diante de tantas bolsas e benefícios sociais, também poderíamos ter uma Bolsa Cidadão Comum, Bolsa para Pagadores de Impostos, Bolsa Empresário, para todos que geram empregos, Bolsa Professor, para aqueles que tentam transferir um pouco de cultura, Bolsa Policial Honesto, Bolsa para Vítimas de Crimes.

Talvez pudéssemos mudar mais adiante o slogan de nossa bandeira, passando de “Ordem e Progresso” para “Bolsas e Progresso”, já que não temos tanta ordem assim.

Eu ia me esquecendo... Também gostaria de ter uma Bolsa Escritor, uma Bolsa Colunista e uma “Bolsa Desânimo”, para todos aqueles que já estão desanimados com tudo que o governo cria para nos tirar a vontade. Talvez até possa ser carinhosamente conhecida como a “Bolsa Saco Cheio”.

A verdade é que existem muitos empresários, cidadãos, profissionais e empreendedores sérios que não aguentam mais a situação. O Brasil precisa mudar já, pois o preço mais adiante será impagável.

* Célio Pezza, escritor, é autor de diversos livros, entre os quais, 'As sete portas', 'Ariane', 'A palavra perdida' e, o mais recente, 'A nova terra - Recomeço'.