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Sinal dos tempos

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A renúncia do papa Bento XVI, anunciada para o final de fevereiro, já assanha os partidários da mentalidade espiritual anticristã no mundo inteiro, inclusive os infiltrados na Santa Igreja, disfarçados por trás da batina, ou do diploma. A defesa de um diálogo inter-religioso sobre a questão do futuro papa já desponta no cenário teológico brasileiro como assunto corrente. Fato significativo: a admissão de influências alheias ao espírito cristão para um assunto evidentemente polar. Mas como poderia ser diferente se a Teologia da Libertação possui expressiva representatividade neste canto da Terra? 

Em sua obra intitulada Do liberalismo à apostasia – A tragédia conciliar, monsenhor Marcel Lefebvre, o bispo francês que lutou contra tal proposta, aborda os equívocos de fundamento do Concílio Vaticano II, a manipulação das comissões conciliares, os erros de Yve Congar e Karl Rahner, e – o pior de tudo – a possibilidade da supressão do latim na liturgia, ou seja, o descartamento a curto prazo da missa tridentina. A forma como São Pedro foi crucificado demonstra claramente como o mundo trata a face institucional da Igreja. Sim, João representa a face mistérica, esotérica par excellence da Santa Igreja. No Apocalispe, escrito pelo mais amado na ilha de Patmos, aparecem não apenas os efeitos da apostasia mundial mas, principalmente, a maneira como o homem vinculado a Deus pode escapar da terrível opressão que abana risonhamente no horizonte. 

Haverá algo mais metafísico do que um raio atingir a basílica de São Pedro, horas depois de o papa anunciar para breve a sua renúncia? O raio, como arma divina, tem dupla função, a saber, destruidor e purificador. Por Zeus foram atirados raios que aniquilaram os Titãs. Já no I Ching, hexagrama Chên, o homem sente a comoção proveniente do temor e tremor que o trovão causa. Logo, ele examina a sua vida para ficar em harmonia com os desígnios divinos. 

Carl Gustav Jung alertou gravemente para a necessidade de o homem moderno de viver sob fortes amarras sociais porque atormentado devido à ausência de Deus: “O desenraizamento e a ruptura com a tradição neurotizam as massas e as preparam para a histeria coletiva. Esta última exige terapia coletiva, que consiste na privação da liberdade e na implantação do terror. Por isso, onde impera o materialismo racionalista, os Estados transformam-se gradativamente menos em prisões do que em asilos de loucos”. Lenin estava completamente ciente de seus objetivos quando defendia a ditadura do proletariado. Perde o homem a reverência diante do Mistério, e decai imediatamente na inconsciência abismal. Situação esta que passa desapercebida pelo homem deslumbrado com o indiferentismo. Porém, justamente a situação que impossibilita o seu reencontro com a fonte originária donde proveio. 

* Roberto Muñoz é escritor.