O tema Jovens e bebidas alcoólicas tem sido intensamente explorado e divulgado pela grande mídia nos últimos meses. De fato, sua relevância no âmbito da saúde pública é inquestionável, assim como a necessidade de conscientizar a população sobre o mesmo. No entanto, os perigos do uso nocivo do álcool em outros grupos vulneráveis e faixas etárias não devem ser subestimados. Tendo em vista a comemoração do Dia Internacional da Terceira Idade, no dia 1º de outubro, acredito ser fundamental alertar para alguns aspectos que diferenciam estas pessoas das demais.
Devido às mudanças fisiológicas próprias do envelhecimento, há diminuição da tolerância do organismo à substância e aumento de seus efeitos sobre o sistema nervoso central. Além disso, a redução da massa corporal e das enzimas metabolizadoras do álcool também contribui para problemas . Assim, o uso abusivo da bebida na terceira idade pode promover déficits no funcionamento cognitivo e intelectual, assim como ocasionar prejuízos no comportamento .
No Brasil, uma pesquisa com 400 indivíduos acima de 60 anos indicou dados preocupantes. Perto de 12% dos entrevistados afirmaram beber mais de sete doses por semana e 2,9% eram dependentes de álcool. A importância desses dados deve ser considerada frente a outros estudos que mostram que consumo nocivo de álcool nessa fase da vida está associado a maior risco de sofrer quedas e fraturas, de desenvolver problemas cardíacos e vasculares, desnutrição e alterações cognitivas como demências. Há complicações clínicas que também merecem atenção, uma vez que eles tendem a apresentar doenças crônicas, com uso de medicamentos frequentemente. Alguns destes remédios podem ter seus efeitos alterados quando consumidos concomitantemente com o álcool, o que pode aumentar ainda mais o risco de consequências negativas.
Nota-se, portanto, que os idosos estão mais expostos aos prejuízos decorrentes do uso nocivo dessa substância e que os dados nacionais evidenciam a necessidade de conscientizarmos e informarmos a população geral sobre o tema . Da mesma maneira, acredito ser essencial capacitar os profissionais da saúde a identificarem problemas decorrentes do uso de álcool em seus pacientes com idade mais avançada, além de orientarem a família e encaminhá-los a tratamento especializado quando necessário.
Arthur Guerra de Andrade, professor e psiquiatra, é especialista em dependência química e presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool