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A falência dos EUA

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Corre o mundo, mas sem muito alarde, a notícia de um possível calote dos EUA para com os seus credores no mundo todo. Um assunto tão elementar como este é de se estranhar, porque tão pouca cobertura a mídia brasileira tem dedicado a este tema. Pois bem, o que tem se noticiado, apenas, é o esforço do governo americano em fechar um acordo com a oposição republicana para aumentar o teto da dívida e, para os incautos, declarar o fim da crise. Toda a problemática noticiada se reduz a este acordo, do qual a oposição a Barack Obama não quer bater o martelo sem certas garantias. O conflito de interesses entre as duas maiores alas da política americana, contudo, pode fazer o acordo não vingar, apesar de os dois lados conhecerem as drásticas consequências do calote, não só para a já combalida economia do país como também para o resto do mundo.

A receita de Obama, para não deixar de pagar aos credores, é muito simples: diminuir os gastos sociais e elevar a taxação sobre os mais ricos. Para ser mais fiel às suas palavras, um “sacrifício compartilhado”, solução esta que tem resistência entre os republicanos, que são contra a elevação dos tributos para as camadas mais altas. O grande problema é que a outrora imponente economia americana chegou aonde chegou dada a sua crescente incapacidade de competição com outros mercados – como Índia, China – que, pelo fato de explorar a força de trabalho a um custo mais baixo, fez muito capital migrar em busca de retorno mais imediato e, por conseguinte, tornar-se mais competitivo afastando os riscos de falências. As práticas de dumping, por exemplo, são um exemplo de sabotar a concorrência e firmar liderança num dado ramo produtivo. Nesse sentido, a prova de que a economia americana encolheu pode ser encontrada, por exemplo, nos altíssimos títulos dos quais China, Japão, Reino Unido e outros, como exportadores de petróleo, são credores e cujo montante devedor soma a bagatela de US$ 14,3 trilhões. Até ao Brasil, cujo fato municiava Lula com suas típicas bravatas, os EUA devem a exorbitante quantia de US$ 187 bilhões.

Ora, um país que deve uma quantia destas, com a baixíssima capacidade de recuperação evidenciada, pode ou não se considerar falido? Esta colocação é tão certa que o que todos no mundo inteiro temem hoje é que o tal acordo no Congresso não seja fechado e que o país declare o default – com o efeito, logicamente, de todos os países com títulos e papéis a receber serem caloteados pela outrora “inabalável” economia norte-americana.

Uma outra possibilidade de recuperação, todos sabem mas pelas razões escusas sempre ela atua pelo subterrâneo, é a ativação da indústria da guerra. É sabido que a opinião pública americana rechaçou e muito, apesar do espalhafato da anunciada morte de Osama, os gastos do governo com a guerra no Iraque e no Afeganistão. Apesar disto, grandes conglomerados norte-americanos devem a sua existência à máquina de matar homens conhecida como guerra. O anúncio, semana passada, da diminuição gradativa das tropas no Afeganistão, no entanto, demonstra o contrário.

Recentemente, em visita ao Brasil, o filósofo húngaro István Mészáros defendeu que há pelo menos três décadas as chamadas crises cíclicas que afetavam a economia capitalista deu lugar, dado o cenário de reconfiguração global e a dificuldade cada vez maior em deslocar contradições sistêmicas inerentes, a uma crise de outra natureza, permanente e estrutural. O esgotamento de possibilidades, como a produção predatória, deu início a um processo que ele denominou ativação dos limites absolutos do capital. István Mészáros, 80, por conta dessa cronificação da situação econômica em escala global, defende como única saída – no plano concreto – uma mudança estrutural, com a transcendência do modelo atual e a sua substituição por algum complexo social alternativo. É chegada a hora de se pensar o futuro. Pois aqueles que outrora diziam gozar de saúde, hoje, no centro financeiro global, agonizam com dificuldades que nem eles ousam subestimar.        

Rogério Castro é jornalista e mestre em serviço social pela Universidade Federal de Alagoas