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"Lula, o filho do Brasil": a força de uma indicação

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Saiu o nosso representante na corrida ao Oscar. Semana passada, o filme Lula, o filho do Brasil foi escolhido para tentar um assento  na festa americana. Duas questões logo vieram à cabeça dos que acompanham cinema e política. Nesta ordem: se estamos bem representados; e se foi uma decisão com fins eleitoreiros.

Jornais e revistas, por dias, perguntaram aos integrantes da comissão que o escolheu (coordenada por um órgão do governo, o Ministério da Cultura) por que foi este filme, e não outro, o mais votado. O discurso, bem ensaiado entre eles, foi praticamente o mesmo:  Lula, o filho do Brasil, de  Fabio Barreto, teria “mais chances” que qualquer um.

Mais chances por ser um filme melhor? Certamente, isso não. Cinéfilos, diretores, historiadores, enfim, gente da área reconhece que Lula, o filho do Brasil é um filme simples, um drama com cores políticas que não dá nenhum salto estético e não faz a arte cinematográfica avançar em linguagem ou narrativa. Mas muitos podem retrucar: se você quer realmente ganhar um Oscar, então obedeça aos padrões, faça um filme fácil de entender, que se preocupe menos com a arte e mais com a bilheteria.

Só que a carreira de  Lula, o filho do Brasil também foi péssima neste sentido. A expectativa de público era uma, a realidade mostrou-se outra. Há quem diga, enfim, que a vida de Lula mereceria um Oscar; mas o filme dele, não.

Será então que votaram no filme por direta missão de campanha eleitoral? Ele foi escolhido para Lula ficar bem na fita e fazer sua sucessora? Ou foi indicado porque o presidente deseja, um dia, presidir, quem sabe, a ONU? Teria chegado ao “gabinete dos notáveis escolhedores de filmes” uma ordem sobre isso?

Nossa elite cultural às vezes finge que não gosta de Oscar. Diz que é um prêmio não da arte, mas da indústria, uma disputa, portanto,  comercial, menor. Mas o país ficou de olho na TV, em 1999, quando Central do Brasil quase chegou lá. E queremos a estatueta não de agora: no longínquo 1963 já torcíamos, na ocasião por Pagador de promessas.

Seria bom para o país ganhar um Oscar. Como foi bom, em 1958, conquistar enfim uma Copa do Mundo de Futebol, deixando para trás o “complexo de vira-lata”. Desta vez, temos, ao que parece, mais voz na disputa, pela força da imagem que o biografado vem construindo.

Mas que a questão se resuma à seara cinematográfica. O filme, afinal,  se chama Lula, o filho do Brasil. E não Brasil, o pai(zão) de Lula.