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Boa hora para definir os caminhos do PT

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As palavras de José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil do governo Lula, ditas terça-feira a petroleiros na Bahia – segundo alguns órgãos de imprensa, ele não sabia da presença de jornalistas no evento – são bastante significativas e mostram um suposto ajuste de rota no futuro do governo petista. Isto, é claro, se a candidata Dilma Rousseff vencer as eleições – o que, tudo indica, vai ocorrer – e se os temas lançados por Dirceu não forem meras opiniões, mas diretrizes a serem seguidas pela sucessora de Lula.

Este, aliás, é o ponto que primeiramente se impõe. Seria um belo momento para que o PT reafirmasse sua tradição de transparência e, dada a repercussão do que disse Dirceu, a candidata petista viesse a público esclarecer se pretende seguir o que Dirceu disse a seus interlocutores sindicalistas. Mesmo porque um dos pilares da campanha é a ideia de que Dilma e Lula “são a mesma coisa”. E pelo que diz o ex-ministro, a eleição de Dilma será mais importante, “porque Lula é muito maior do que o PT” e a nova gestão será uma afirmação da ação do partido, mais do que da candidata. Nesse caso, é preciso saber se o eleitor que vota em Dilma por gostar de Lula estará de acordo com tamanha mudança.

Chama a atenção ainda o fato de que José Dirceu pareceu bastante familiarizado com as linhas mestras do próximo governo. Um indicativo de que, nele, possa ter de novo o papel de protagonista. Como tinha com Lula até envolver-se no episódio do mensalão e ter-se visto obrigado a deixar o comando da Casa Civil.

Outros pontos que merecem reflexão são relativos aos comentários sobre a liberdade de imprensa e sobre o aparelhamento de órgãos públicos com sindicalistas. Sobre o primeiro, nem vale tanto a pena bater na tecla da importância de um jornalismo livre e plural na vida de qualquer nação democrática. Quanto ao segundo, é no mínimo discutível substituir os quesitos competência e capacidade pelo histórico sindical de quem vai comandar qualquer empresa.

Se é fato, como apregoa Dirceu, que Lula é maior do que o PT, o partido deveria lutar para crescer em qualidade até ficar melhor do que o presidente. E não trilhar o caminho inverso.