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Obra de emergência no Parque Guinle: restauração depende de licitação

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O deplorável estado de conservação do Portão do Parque Guinle, em Laranjeiras, na Zona Sul, está com os dias contatos. A empresa Chico Procópio Restauros começou, ontem, uma “operação emergencial” para evitar que o imponente portal, corroído por ferrugem e amarrado por um cabo de aço para não ruir, se torne irrecuperável e desabe, correndo o risco de atingir um pedestre. “Essa etapa emergencial será feita em até três dias”, prevê Francisco de Assis Procópio Dias, proprietário da empresa. A Fundação Parques e Jardins está fazendo levantamento para calcular os custos da restauração completa. Responsável por restaurações como a da cúpula do Biblioteca Nacional, do Theatro Municipal e do Palácio Laranjeiras, para o qual o Parque Guinle dá acesso, a empresa vai escorar o portão com chapas de ferro de ambos os lados da estrutura de ferro fundido, fixadas com parafusos e porcas.

A precaução, porém, está longe de resolver a questão. A última restauração no monumento aconteceu em 1998, durante a gestão de Luiz Paulo Conde na prefeitura. De lá para cá, tanto o Palácio Laranjeiras quanto o Parque Guinle passaram por reformas — e este último, graças às iniciativas da voluntária aposentada Nedina Levy, voltou a ser uma disputada área de lazer, que vive lotada de crianças e idosos, sobretudo nos finais de semana. “Desde que comecei a trabalhar com o parque, há 12 anos, passei a lutar pela restauração do portão”, disse ela, enquanto acompanhava de perto a operação emergencial.

Com o brasão da família Guinle no topo, o portão foi tombado, em 2001, pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico (Iphan). Arquiteta da Fundação Parques e Jardins, Vera Dias conta que o portão saiu de Paris, em 1911, das forjas da Schwartz & Meurer, no número 76 do Boulevard de la Villette, diretamente para o Parque Eduardo Guinle. O conjunto de ferro fundido inclui dois imponentes leões de bronze da fundição francesa Val d’Osne, dois anjos do mesmo material e duas esfinges de mármore branco — sendo que uma delas tem o nariz quebrado —, réplicas do Palácio de Versailles. Todos os ornamentos, como flores e folhas, são em bronze e não seria exagero dizer que se trata de um dos mais requintados portões de toda a cidade, pela imponência e materiais utilizados. A base é de granito e está cheia de pichações. O restauro vai incluir os quatro enormes vasos de granito existentes de cada lado do portão.

A plástica para restaurar o nariz está entre os trabalhos a serem executados na restauração. Embora sua empresa ainda não esteja licitada para realizar a futura obra, Francisco Procópio acredita que para realizar a restauração completa, que consumiria três meses, só o trabalho da empresa sairia por R$ 100 mil. Procópio explica que as estátuas de bronze terão a tinta raspada e receberão um verniz à base de xílon, substância que prolonga a vida útil da recuperação. “Hoje existem materiais que ainda não estavam disponíveis na última restauração, como o convertedor de ferrugem PCF, produto nacional, que nem requer a retirada da ferrugem, é um produto protetor e a ferragem para de evoluir”, explica.

A Secretaria de Conservação e Meio Ambiente informa que técnicos da Fundação Parques e Jardins estão preparando relatório técnico para orçar os reparos necessários ao portão do Parque Guinle. O projeto de recuperação precisará, ainda, ser submetido à análise e aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Por ser tombado e se tratar de uma peça de arte, exige a contratação de trabalho artístico por meio de licitação para que seja feito o molde no qual o ferro será fundido.

Palácio Laranjeiras 

Com fachada principal inspirada no Cassino de Montecarlo, em Mônaco, o Palácio Laranjeiras foi um mirabolante projeto do industrial Eduardo Guinle (1846-1912), que faliu em consequência da obra, inaugurada dois anos depois de sua morte. Projeto do arquiteto Carlos da Silva Telles, todo o palácio foi importado da Europa, em seus mínimos detalhes: da escadaria de mármore aos vitrais do hall de entrada. Em 1926, por determinação do presidente Washington Luís, o imóvel passou a sediar a residência oficial da Presidência da República. Getúlio Vargas, porém, optou por residir no Palácio do Catete; Juscelino Kubitcheck mudou a capital para Brasília; e, em 1974, o palácio foi cedido da União para o estado. Na penúltima reforma realizada no imóvel, havia planos de abri-lo para a visitação pública, projeto revogado quando o ex-governador Anthony Garotinho se mudou para lá com sua família.

Seis governadores moraram no palácio desde 1974, as exceções foram Leonel Brizola, Marcelo Alencar, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão. A mais triste memória do luxuoso imóvel foi a assinatura, pelo presidente Costa e Silva, do Ato Institucional 5, o famigerado AI-5, em 13 de dezembro de 1968.