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Nem aí para Copa: pessoas fogem do jogo e curtem sossego de pontos turísticos

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Era o domingo 17 de junho, primeiro jogo do Brasil na Copa do Mundo, quando a mineira Thauane Balduíno, 18 anos, viu o mar pela primeira vez. Isso por que sua companheira, a carioca Beatriz Archanjo, 21 anos, a trouxe para o Rio de Janeiro. E também porque nenhuma das duas liga a mínima para futebol. “Estava a fim de ver o jogo em família. Fugi do Rio para morar em Minas Gerais e hoje achei que valia mais a pena curtir as belezas da cidade do que assistir futebol”, disse Beatriz, que teve sorte com a linda tarde de atmosfera lavada que abriu no Aterro do Flamengo, onde foi passear com Thauane. 

O arquiteto carioca Eduardo DeLucas, 35 anos, que acompanhava as duas amigas, disse que até se emocionou quando a Copa veio para o Brasil, em 2014. “Não foi aquilo que eu imaginava, entretanto. Depois do 7 X1, então, deixei de gostar. São tantos problemas que temos aqui, futebol é uma distração que não me distrai”, desdenha.

Realmente havia pouca gente no Aterro durante o jogo, porém, quem escolheu o parque para passar a tarde não se arrependeu. A secretária Sarah Robelca, 23 anos, aproveitou a privacidade para namorar Brian Arcanjo, mecânico de 26 anos, com quem está casada há três anos depois de oito anos de namoro. “Futebol? Zero! Não sei nada, estou por fora! O único que conheço é o Neymar, por causa da propaganda. Além do mais, fica tudo mais calminho por causa do jogo”, argumentou ela. Embora bata uma bolinha de vez enquando, Brian não curte assistir partidas de futebol ou de qualquer outro esporte. Assim como Sarah, sua maior diversão são as séries e filmes na TV ou “dar um passeio bem bonito, em um lugar como este”. 

Outro que usufruía do ambiente privativo dos aparelhos ao ar livre no Aterro era o bombeiro civil Sérgio Ricardo Sant’Anna Correia, 49 anos. “Não sou muito de futebol ou de Copa do Mundo e não torço para nenhum time”, sintetizou, enquanto desfrutava dos aparelhos. “É uma maravilha fazer atividades físicas sem tumulto”, completou. 

Embora goste de futebol e torça pelo Flamengo, o funcionário público Felipe Marçal, 34, preferiu ouvir a partida pelo rádio e aproveitar a falta de concorrência normal aos domingos, ainda maior na estreia do Brasil na Copa, para rodar ontem de meio dia às 22h em seu Uber. “Ligar eu ligo, quando dá. Não fico preso por essas coisas”, afirma.

Futebol no telão 

Os cinemas da cidade já perceberam que não adianta manter a programação habitual durante os horários dos jogos do Brasil e se adequaram à realidade: passaram a oferecer a projeção das partidas a preços mais elevados do que o das seções comuns (R$ 60 a inteira e R$ 30 a meia entrada). As salas de maior procura são dos shoppings centers, e foi a  tranquilidade que levou a analista de sistemas paulista Valentine Gostynska, 43, e seu marido, o engenheiro mecânico Rui Cabrera, 55, a assistir o jogo no Itaú Unibanco da Praia de Botafogo, na zona Sul. “Não somos de televisão e nosso aparelho não pega muito bem. Achei que seria um programa diferente ver o jogo no telão do cinema”, disse Valentine.  

Já um lugar que surpreendeu pela inusitada mistura anunciada pela bandeira brasileira esticada na entrada do bar, perto da bandeira da Suíça hasteada antes do jogo pelo cônsul Rudolf Wyss – que não ficou para assistir a partida no telão high tech de resolução Pixels – foi o Palaphita, na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona Sul. Entre uma maioria de torcedores de camisa verde e amarela, chamavam a atenção as amigas suíças Regina Lugrin, 25 e Chalotte Bonetti, 22, pernas de fora, com cabelos presos em longas tranças nagô, ambas com a bandeira suíça estampada nas bochechas. “Estamos de férias e não viemos por causa do futebol, mas nos divertimos muito”. A diversão do suíço Moritz Baumann, 26 anos, que trabalha no mercado financeiro, contudo, era bem mais discreta. “Estou de férias no Rio, adorando o lugar, as pessoas e o jogo. Não sou muito ligado em futebol, que não é um esporte típico de meu pais e até torço para o Brasil ganhar”, confessou.

Embora estivesse surpreso com uma frequência que avaliou em cerca de 300 pessoas, Mário de Andrade, há 12 anos proprietário do Palaphita, recheou o local de atrações, como um teleférico que nevava a cada meia hora para a criançada – por sinal, totalmente alheia ao jogo -, além de delícias típicas da culinária suíça como batata rosti, raclete, fondue e um misto de embutidos. A parceria com o país europeu começou na última Copa do Mundo e continua a render frutos. “Amanheceu um dia feio e pensei que não ía encher”, observou, satisfeito com o ibope. Na realidade, porém, ao lado do local onde o público se concentrou havia outro espaço todo decorado e pronto para receber a clientela, às moscas.