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Sobrado no Centro chama atenção por fachada verde e amarela

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Enquanto a cidade demonstra ainda certa indiferença pela Copa do Mundo, o sobrado 143 da Rua Sete de Setembro, no Centro, entre o Largo de São Francisco e a Rua Uruguaiana, chama a atenção pelas cores de sua fachada. O imóvel foi pintado de verde, os detalhes arquitetônicos de estilo eclético — como um pavão que exibe sua cauda em alto relevo — são brancos, e as janelas, amarelas. Enquanto os comerciantes da Saara penam para atrair a atenção de uma clientela desmotivada lotando as ruas de bandeirinhas verde e amarelas, algo semelhante acontece com o sobrado caiado com as cores da bandeira brasileira. A vizinhança sequer nota aquele colorido.

 Vanderlei Pereira, 62 anos, há 18 faxineiro da sede do PDT, vizinho de porta do sobrado, é um que confessa nunca ter reparado nas cores do imóvel. “Realmente nunca notei”, diz com surpresa. As cores tampouco remetem à Copa do Mundo. “Não sou fanático por futebol, mas acabo assistindo à Copa nas minhas folgas”, admite. Com seu João José de Oliveira, 65 anos, caixa da tradicional Casa Cavé desde 1982, não é diferente: “Realmente nunca reparei”, afirma. Torcedor do Atlético Mineiro, ele reconhece que não está nada animado com a competição mundial de futebol: “Depois daquele vexame da Copa passada, perdi o interesse. Foi uma vergonha inesquecível”.

A atual proprietária do imóvel é uma comerciante de origem chinesa e está incomunicável em viagem a seu país para cuidar da saúde, conforme a amiga que a substitui — brasileira de família chinesa, tão desconfiada que sequer revela seu nome ou idade — informou. “Meu codinome é Maria”, desconversa. A loja oferece toda sorte de objetos decorativos, desde uma grande escultura tailandesa dourada de Buda, posters, relógios de parede, peças de cerâmica e variados guarda-chuvas a flores artificiais. O cuidado com a pintura externa contrasta com o nome da loja, coberto por plástico preto, só deixando à mostra a sílaba “Co”. Maria diz que o verde e amarelo obedece às regras do Corredor Cultural, no qual o imóvel está inserido e que “adora a Copa do Mundo”, embora, este ano, não esteja acompanhando de perto o desempenho da seleção canarinho.

Outra que compartilha do desinteresse pela fachada verde e amarela, bem como sobre o desempenho brasileiro na copa, é Ana Lúcia Carvalho, 52 anos, há cinco funcionária   da loja Arte Sacra Renovação, também contígua ao sobrado tupiniquim. Ela havia reparado a fachada verde da loja próxima, porém não percebeu as janelas amarelas. “Na última copa enfeitamos a vitrine de verde e amarelo e vestimos as camisas. Moro em Santa Cruz e sempre arrecadava dinheiro com meu marido para fazer decorações em nosso bairro. Dessa vez, não há interesse, todo mundo está chateado com tanta corrupção e violência”, admite ela, embora saiba que quando começarem os jogos vai acabar torcendo pela vitória de seu país.

Patrimônio protegido   

O sobrado 143 faz parte do Corredor Cultural, criado pelo Decreto 1.707 de 1978, do prefeito Marcos Tamoyo. Isso significa que qualquer obra realizada na fachada ou telhado do imóvel tem de seguir um padrão da área preservada. A pintura, porém, pode ser escolhida pelo proprietário do imóvel, desde que aprovada pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade. Estão neste contexto 30 mil imóveis que integram 36 áreas urbanas que protegem conjuntos arquitetônicos representativos de diversas fases de ocupação da cidade. O imóvel também é protegido pelo Decreto 4.141 de 1983, do prefeito Jamil Haddad, direcionado aos imóveis que fazem parte do Corredor Cultural.