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De animais a esgoto: empresa licitada para contratar para bibliotecas-parque nada sabe de livros

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Criação de animais de estimação e execução de atividades relacionadas a esgoto são as expertises da empresa Liderança Limpeza e Conservação Ltda., que venceu licitação da Secretaria estadual de Cultura para contratar funcionários para a Biblioteca Parque Estadual, no Centro, e as bibliotecas-parque de Manguinhos e da Rocinha. 

Em setembro do ano passado, a secretaria estadual de Cultura lançou um edital para pregão eletrônico, instrumento para a contratação de uma “empresa especializada na prestação de serviços de apoio técnico-administrativo para atender as necessidades da rede de Bibliotecas Parque”, conforme informa trecho do documento. 

O resultado da concorrência foi publicado no Diário Ofi cial do estado, no último dia 21. Segundo o texto, a empresa Liderança Empresa e Conservação Ltda., inscrita no CNPJ 00.482.840/0001-38, foi declarada vencedora do certame. O serviço de contratação de 64 profi ssionais para as bibliotecas custará R$ 4,21 milhões. 

Entre os cargos que terão vagas preenchidas estão os de auxiliar de biblioteca (a maior parte das vagas oferecidas: 26), de coordenadores administrativo e educativo, auxiliar educativo, operador de áudio e luz, além de bibliotecários sênior e júnior.

Em consulta ao Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, vinculado ao Ministério da Fazenda, atesta-se que entre as atividades exercidas pela empresa estão a “criação de animais de estimação”, “obras de alvenaria”, “comércio varejista de bebidas”, “atividades relacionadas a esgoto”, “serviço de manejo de animais”, entre outros.

A escolha foi alvo de críticas de funcionários e ex-funcionários das bibliotecas-parque. 

“Como uma empresa autorizada a criar animais vai escolher bibliotecários e outros funcionários para as bibliotecas-parque? Antes, as bibliotecas tinham historiadores e outros profi ssionais preocupados em fomentar a diversidade cultural. Eram pessoas escolhidas com esse viés. Agora, qual a qualidade desses profi ssionais e com que custo isso será feito?”, dispara um ex-funcionário.

“Biblioteca não dá voto, o que dá voto é viaduto e etc”, completa. 

Uma outra colaboradora conta que as unidades não estão funcionando a todo vapor, com algumas partes interditadas à visitação do público, por conta do défi cit de funcionários. 

As três bibliotecas-parque fi caram fechadas durante quase um ano e meio, por conta da grave crise fi nanceira que assolou o estado do Rio de Janeiro. Em fevereiro, a biblioteca da Rocinha foi a primeira a ser reinaugurada. Na ocasião, o secretário estadual de Cultura, Leandro Monteiro, informou que o investimento para manter tais equipamentos culturais funcionando será de R$ 1,7 milhão por mês. 

Inaugurada em 2012, a Biblioteca Parque da Rocinha fez 14 mil empréstimos de livros e emitiu 5 mil carteirinhas de usuários. Até ser fechada, em 2016, 145 mil visitantes passaram por seus cinco pavimentos, construídos na Estrada da Gávea, uma das principais vias da favela. 

Em março, foi a vez da Biblioteca Parque de Manguinhos reabrir suas portas à população. Inaugurada em 2010, como a primeira deste tipo no país, o equipamento cultural é o único naquela região. Em seus tempos áureos, atraía moradores por conta das atividades culturais gratuitas desenvolvidas ali, como cursos de contos e mostras de fi lmes. Hoje, as atividades são realizadas apenas em parte do equipamento. Por falta de funcionários, o segundo andar está fechado. 

A carência de recursos humanos também afeta a unidade do Centro, na Avenida Presidente Vargas, onde o horário de funcionamento foi reduzido. 

Secretaria vai supervisionar   

Procurada para comentar a expertise da Liderança, Limpeza e Conservação Ltda., a Secretaria estadual de Cultura informou que a empresa “comprovou experiência e tem diversos clientes nos setores público e privado”. Além disso,  é “especializada na prestação de serviços de apoio técnico-administrativo” e foi escolhida em processo de licitação pública e pode realizar todos os tipos de terceirização de mão-de-obra”. Representantes da empresa foram procurados, por telefone, para comentar sobre sua área de atuação, mas nenhum representante foi encontrado.