ASSINE
search button

Após 18 meses de obras, Biblioteca Nacional será reinaugurada

Compartilhar

Foram 18 meses de obras que deixaram a icônica fachada da Biblioteca Nacional escondida por lonas e tapumes, na mais abrangente restauração já realizada desde a construção do prédio de cinco andares, há 108 anos. A nova sede de um acervo de 9 milhões de exemplares será inaugurada em 18 de junho, recuperando a dignidade da sétima maior biblioteca do mundo e a maior da América Latina. Segundo o responsável técnico pela obra, o arquiteto Luiz Antonio Lopes de Souza, “a fachada estava em processo de deterioração muito preocupante. Utilizamos um material técnico de excelência em termos de restauro”.

As obras foram feitas pela empresa Concrejato e consumiram R$ 10,7 milhões, recursos provenientes do Fundo Nacional da Cultura, por meio do PAC das Cidades Históricas, sob a fiscalização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que tombou o imóvel em 1973. Pela primeira vez, todas as 285 janelas, incluindo as partes de madeira e ferragens originais, foram criteriosamente recuperadas, bem como os vidros com monogramas contendo as iniciais da Biblioteca Nacional, “com uma técnica que não se usa mais, de jateamento de areia”, completa Lopes de Souza. As argamassas e os elementos decorativos da fachada também foram recuperados, no processo dividido em 21 panos, com cerca de 15m cada um. “A obra passou de pano em pano, até chegar ao trecho frontal, de frente para a Avenida Rio Branco”, detalha o arquiteto.

Uma pérola descoberta durante o processo surgiu após a restauração das três principais portas de acesso ao imóvel, pintadas de preto. “Descobrimos que elas são de bronze, fabricadas na Inglaterra. Agora, recuperaram o bronze natural”, exulta o arquiteto. O projeto original, com estrutura metálica, de Francisco Marcelino de Souza Aguiar, representou um marco tecnológico para a época, com a típica arquitetura eclética do final do século 19 do prédio e sua fachada que mistura vários estilos.

Durante as obras, foi feita a aplicação de películas com filtros UV nos vidros, que vão contribuir para a proteção do acervo contra o excesso de luminosidade e deixar o ambiente interno mais confortável. Um estudo cromático revelou a cor original da fachada, amarelada, reproduzida com uma pintura à base de pigmento mineral. E para restaurar o cobre da cúpula — o telhado é coberto por telhas francesas e quatro claraboias de vidro iluminam os vãos internos —, a ferrugem foi removida com o cuidado de manter a pátina original, que protege a superfície da ação do tempo. Todos os elementos de cobre perdidos foram reintegrados ao conjunto. 

O desafio durante a reforma foi manter a biblioteca em funcionamento. Foram detectados alguns conflitos entre funcionários, visitantes e os 120 operários que executaram o projeto. “Foram desenvolvidas várias ideias para não atrapalhar os serviços dentro do prédio nem os visitantes. Foi um esforço de todos os servidores, operários e frequentadores para que a obra acontecesse concomitante ao funcionamento da instituição”, explica Helena Severo, presidente da Biblioteca. Outra solução foi criar visitas guiadas para os operários poderem compreender a importância do imóvel, processo iniciado em julho de 2017, repetido por dez vezes.

--------------

LINHA DO TEMPO

1808 Chegada do acervo inicial 

Início do itinerário da Real Biblioteca no Brasil, com a chegada de D. João VI e sua Corte ao Rio de Janeiro.

1822 Biblioteca ganha novo nome 

A Real Biblioteca passa a ser denominada Biblioteca Imperial e Pública.

1822 Início do que hoje é a Lei do Depósito Legal 

Por determinação do governo imperial, a biblioteca passa a receber um exemplar de todas as obras, folhas periódicas e volantes impressos na Tipografia Nacional, fato precursor do que hoje é a Lei do Depósito Legal. 

1876 Nome definitivo 

A instituição passa a se chamar, definitivamente, Biblioteca Nacional, depois de ser denominada de Real Biblioteca e Biblioteca Imperial e Pública. 

1885 Luz elétrica na biblioteca 

A iluminação a gás da biblioteca é substituída pela luz elétrica. 

1891 Doação do imperador 

D. Pedro II Com a Proclamação da República, D. Pedro II retorna a Portugal e, antes de partir, doa um conjunto de aproximadamente 100 mil obras, que pede que seja denominado “Collecção D. Thereza Christina Maria”, em homenagem à imperatriz, sua esposa. É a maior doação já recebida, e sua chegada demandou reformas e criação de novos espaços no prédio

1905 Início da construção do prédio atual 

É lançada a pedra fundamental do atual prédio da Biblioteca Nacional, localizado na majestosa Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco. 

1909 Instalação de telefone 

É instalada a rede telefônica, com 18 aparelhos e um centro de 30 linhas para a rede interna da biblioteca. 

1910 Novo prédio na Avenida Central 

É inaugurado o novo prédio da Biblioteca Nacional, exatamente 100 anos depois da fundação e instalação da instituição na Rua Direita. Projetado pelo construtor, engenheiro e general Francisco Marcelino de Souza Aguiar, o edifício tem capacidade para um milhão e meio de livros impressos e todo o acervo de manuscritos, estampas etc. 

1946 Serviço especial de obras raras 

Pelo Decreto-Lei nº 8 679 é criada a Divisão de Obras Raras e Publicações. 

1981 Integração à Fundação Nacional Pró-Memória 

A Biblioteca Nacional passa a ter administração indireta e a fazer parte da Fundação Nacional Pró-Memória. 

1983 Criação do PLANOR 

É criado o Plano Nacional de Restauração de Obras Raras. 

2006 BNDigital 

Criação da Biblioteca Nacional Digital (BNDigital), que integra todas as coleções digitalizadas.