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Terceira explosão em banco em apenas 18 dias assusta moradores de Laranjeiras

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“Seria interessante levantar o quanto foi efetivamente roubado do Bradesco nas duas vezes em que foi explodido e agora, no Banco do Brasil. Por mais falta de policiamento que se tenha, uma empreitada dessas nunca é fácil para os bandidos. É uma operação complexa, onde existem muitas variantes e a chance de dar errado é igual ou maior a chance de dar certo. Ou esses assaltos estão rendendo bastante, a ponto de já estarmos na terceira rodada da mesma prática, inclusive com a repetição do horário da detonação, ou explodir reiteradamente a vizinhança esconde outras intenções e interesses que não se resumem apenas ao que pode ser angariado nos caixas eletrônicos.” O desabafo feito pelas redes sociais por um morador de Laranjeiras resume bem a perplexidade da população do bairro na Zona Sul do Rio com o terceiro caso de explosão numa agência bancária em menos de 20 dias. As pessoas estão assustadas com os episódios recentes de violência e não vêm sentindo firmeza nas investigações feitas pela polícia. Nas redes sociais, os rumores são de uma reação à suspensão dos serviços de uma segurança privada na General Glicério, em dezembro de 2017. 

Em 18 dias, ocorreram três explosões de caixas eletrônicos na região. A última ocorreu na madrugada de ontem, na Rua das Laranjeiras, perto da Rua Estelita Lins, vizinha à Rua General Glicério, onde aconteceram outras duas explosões anteriormente. Na madrugada da segunda-feira 14 de maio, uma agência do Banco Bradesco localizada na Rua General Glicério teve o caixa eletrônico explodido, pela segunda vez em apenas oito dias. De acordo com a Polícia Militar, os suspeitos entraram armados, explodiram os caixas e fugiram do local em dois veículos. O primeiro ataque ocorreu na madrugada do domingo 6 de maio. Na ocasião foram encontrados no interior da agência nove estojos de munição calibre 40 e uma cavadeira de ferro. 

O comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar (Botafogo), tenente-coronel Carlos Henrique, nascido e criado em Laranjeiras, não acredita, contudo, que os rumores tenham fundamento: “Não acho que tenha sido uma ação de retaliação. Esse ano, ocorreram explosões como estas na Tijuca, no Centro, em Botafogo e no Méier. Laranjeiras é um bairro com saí- das pelos túneis Santa Bárbara, Rebouças e pela Rua Alice, o que facilita a ação de criminosos”, justificou. 

O que causou mais estranheza entre os que suspeitam de que há algo diferente por trás dos ataques foi o fato de os criminosos não terem levado dinheiro nem na primeira nem na última vez em que as bombas foram detonadas. “Talvez eles tenham fugido porque houve uma aproximação da polícia. Tenho mantido uma viatura naquelas imediações, mas ontem ela se deslocou depois de uma hora da manhã para apoiar uma operação de Lei Seca”, explicou o comandante. 

O deslocamento foi percebido, e criticado, pelos moradores, por meio de postagens nas redes sociais. Um deles testemunhou: “Ontem à noite teve uma pessoa postando aqui uma foto de uma viatura da PM na esquina da Laranjeiras com General Glicério. Onde estava essa viatura quando isso aconteceu pq se os PMs tivessem no local isso não teria acontecido já q eles estavam a menos de 20 metros do local. Será q a viatura só ficou ali no horário de maior movimento pra ser fotografada? Obviamente a foto da viatura aqui postada foi apagada. Não sei se por quem postou ou por algum administrador da página”. Um outro internauta comentou em cima: “A viatura que vc falou a partir das 22hrs ja tinha saido da general, eles ficam o dia todo la, quando chega de noite que o crime acontece... Eles tao bem longe”. 

A presidente da Associação de Moradores de Botafogo e do Conselho de Segurança da 2ª ISP (área Integrada de Segurança Pública), Regina Chiaradia, acredita que a falta de patrulhamento tem contribuído para a incidência dos crimes no bairro. “Eles vão onde tem pouco policiamento e facilidade para fugas”, afirmou Regina, que concorda com a opinião do comandante do 2º BPM e não acredita em retaliação: “Em geral essas empresas de segurança têm PMs, mas associar o episódio de dezembro às explosões é muita viagem”. Presidente da Associação de Moradores de Laranjeiras, Marcos Vinícius Seixas se disse “perplexo” com essa terceira explosão no bairro, entretanto, também evitou associar os episódios a algum tipo de reação de milicianos. 

Mobilização contra cancela 

A suspeita de que estas explosões poderiam estar relacionadas à uma ação da milícia surgiu por conta da negativa dada por moradores da Rua General Glicério à guarita que já havia sido instalada experimentalmente na rua, em dezembro passado, pela empresa Groupe Protection Segurança. O projeto previa que as ruas General Glicério, Professor Ortiz Monteiro e General Cristóvão Barcelos, além da Praça Jardim Laranjeiras, teriam câmeras interligadas por uma sistema de vigilância, com guaritas e cancelas, e todas seriam ocupadas por agentes de segurança que controlariam a entrada e saída de veículos. 

Coincidência ou não, na noite que antecedeu a primeira explosão, em 5 de maio, ocorreu uma reunião de moradores da General Glicério que se organizou no Laranjeiras Solidária, grupo criado pouco depois do episódio de dezembro. “Fazemos um trabalho de base com a classe média para trazer pensamento crítico e reconectar as pessoas ao movimento social. Nosso trabalho não tem a ver com segurança, mas com cultura e diálogo”, disse uma participante, que preferiu não se identificar. “A cidade está tomada por grupos criminosos, mas não acreditamos que estas explosões sejam uma retaliação”, acrescentou ela.