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Após sequestros, reitor da UFRJ cobra providências urgentes da polícia

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O reitor da UFRJ, Roberto Leher, deu esta entrevista impactado por mais um sequestro-relâmpago no campus na Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, ocorrido ontem. Leher detalhou as providências urgentes que deveriam ser tomadas e cobrou ações urgentes das polícias Civil e Militar. “Não é possível tipificar a situação de dois professores, 11 horas presos sob a mira de armas, como um simples roubo de automóveis”.

Hoje (ontem) houve mais um sequestro-relâmpago no campus do Fundão. 

Foi mais uma ação gravíssima, dessa vez no Centro de Ciências da Saúde, onde roubaram os pertences da estudante, que foi liberada no entorno do Hospital Universitário. É mais uma prova de que falta efetividade e presença da segurança pública na Cidade Universitária e no seu entorno. Mostra, também, a ousadia das organizações criminosas sem haver uma política de investigação efetiva. Entendemos como fundamental o papel da Divisão Antissequestro na Cidade Universitária. Sem isso, a UFRJ seguirá vulnerável às organizações criminosas, que dispõem de um enorme exército em função da guerra entre milícia e tráfico. Essa guerra está levando bandidos a procurar outros nichos. 

O senhor poderia traçar um quadro da situação de segurança da UFRJ? 

A UFRJ está numa situação de muita vulnerabilidade, por ser um campus aberto numa área com territórios conflagrados, como as favelas da Maré e do Alemão. Está, portanto, inserida nas contradições e conflitos sociais que transformam o Rio de Janeiro. Como as demais universidades federais, não tem condições para renovar seu corpo de segurança, que é a melhor alternativa visando garantir a segurança cotidiana da universidade e dos frequentadores. 

Por quê? 

Desde 1994, não há concurso para segurança; esse cargo, inclusive, foi extinto, ainda na época de Fernando Henrique Cardoso na Presidência. A UFRJ tem, sistematicamente, reivindicado junto à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior o aumento da segurança própria. Os ministérios da Educação e do Planejamento, no entanto, não vêm se mostrando sensíveis ao problema. Já fiz contato direto com o ministro Aloizio Mercadante (do governo Dilma Rousseff ), ministro Mendonça Filho (titular da pasta até abril de 2018) e com Paulo Barone (titular da Secretaria de Educação Superior), a quem enfatizamos a questão de um corpo de segurança próprio reforçado. Mas, na ausência de concursos para isso, nossa dependência de um efetivo da Polícia Militar ficou muito grande. A UFRJ necessita muito do suporte da PM. 

No que consiste esse suporte, na prática, para a UFRJ? 

Na Cidade Universitária, temos uma área equivalente às do Leblon e de Ipanema juntas. O suporte da PM é muito importante para assegurar um policiamento ostensivo das vias e impedir ações de grupos que vêm golpeando duramente a UFRJ. O batalhão ao qual a universidade está circunscrita é o 17º BPM, com quem temos uma relação bastante positiva com intensa e constante interação. Mas o batalhão não dispõe atualmente de efetivo para manter um policiamento compatível com o tamanho e as necessidades da UFRJ. Há quatro anos, a PM contava com quatro viaturas e oito policiais circulando na UFRJ. 

Mas isso era suficiente? 

Não acho muito, mas havia uma presença efetiva da PM. Mas com a crise fiscal do governo do estado, esse contingente diminuiu. Atualmente há apenas uma viatura com dois policiais. E sequer eles têm uma presença permanente no campus. O 17º BPM já informou que há um ano e meio foi suspenso o pagamento de horas extras. 

Qual foi o impacto dessa diminuição no policiamento? 

As quadrilhas a perceberam. Em função desse quadro, nos reunirmos com o (então) secretário de segurança José Mariano Beltrame e, depois, com seu substituto, Roberto Sá. Agora, estamos sempre em contato com o subsecretário de Assuntos Estratégicos, Roberto Alzir. Ficou acordado com ele que a PM ampliaria novamente o número de policiais na Cidade Universitária, mas isso ainda é um processo irregular. Mesmo depois de um casal de professores ter sido submetido à privação de liberdade numa situação dramática, ainda não temos um efetivo. Sem falar no que aconteceu hoje (ontem). Hoje (ontem) conversei com Alzir, que fez contato com a PM, a fim de intensificar a segurança enquanto não chega o reforço que está sendo pactuado. 

Poderia dar detalhes de como está esse acordo? 

A direção da Petrobras, que tem o Cenpes (Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello) no nosso campus, vai contratar ao Programa Estadual de Integração na Segurança (Proeis) o aumento do efetivo da PM. Com isso, teremos, novamente, quatro viaturas e oito policiais militares. Só que dessa vez eles serão exclusivos da UFRJ. 

Mas o senhor diz que a Polícia Civil também tem de atuar. 

Nós estamos convencidos de que as quadrilhas que estão fazendo esses atos infames de terror são especializadas nesse tipo de ação na Cidade Universitária. Por isso, não basta apenas o policiamento preventivo. É importante que haja um engajamento da Divisão Antissequestro e da 37ª Delegacia de Polícia (Ilha do Governador) no sentido de elucidar os autores desses atos. Não é possível tipificar a situação em que dois professores ficam 11 horas presos sob a mira de armas como um simples roubo de automóveis (caso ocorrido na sexta-feira, dia 18 de maio). Ao todo, já temos um histórico de quatro episódios envolvendo seis professores da nossa comunidade acadêmica. Isso demonstra que já existe um modus operandi no contexto de bandidos à procura de outros nichos. 

Há outras providências a serem tomadas nesse caso? 

Precisamos de um campus com uma melhor iluminação. Os prédios deteriorados da UFRJ, devido à falta de recursos, são outro fator a atrair a criminalidade. Temos câmeras por todo o campus, vinculadas ao corpo de segurança, mas não temos cobertura 100% delas