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Na garupa da impunidade: Dois anos após, Ciclovia Tim Maia continua interditada e sem responsáveis

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Dois anos após a queda de um trecho da Ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, na Zona Sul do Rio, que provocou a morte de duas pessoas, a via continua interditada e pouco foi feito pelo poder público. A obra, que custou R$ 44 milhões aos cofres municipais, ligaria a Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade, à orla de Leblon e Ipanema, permitindo uma conexão cicloviária de quase quatro quilômetros. Mesmo sem autorização para usufruir da ciclovia construída para a Olimpíada de 2016, muitos cariocas têm se arriscado a usá-la, seja para pedalar, andar de skate ou caminhar. 

Desde que o trecho de 20 metros da ciclovia não resistiu a uma forte onda e desabou, o Ministério Público estadual, por intermédio da 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Ordem Urbanística da Capital, ajuizou uma ação civil pública pedindo a manutenção da interdição da via, além de outra, na área criminal, também em julho de 2016, denunciando 14 pessoas por homicídio culposo. Nenhum dos dois processos chegou a julgamento. 

Num primeiro estudo feito pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), para atender uma determinação judicial, engenheiros constataram que a ciclovia não apresentava condições adequadas de segurança para os usuários. Segundo o documento, foram identificados problemas nos pilares da estrutura, como pontos de corrosão, responsáveis por causar movimentação inadequada das vigas. Os engenheiros sugeriram ainda que a ciclovia ficasse interditada nos meses em que as ressacas no mar são recorrentes. Em fevereiro deste ano, um segundo novo trecho da ciclovia (mais próximo a São Conrado) também cedeu.   

Diante do estudo do Crea, o Ministério Público do Rio pediu que a via continuasse interditada. Segundo o MP, recentemente, a prefeitura rebateu esse estudo para obter a desinterdição. O juiz, por sua vez, pediu que o Crea fosse intimado novamente para dizer quais medidas técnicas precisariam ser adotadas para solucionar a questão. 

Procurada, a prefeitura informou que “a GeoRio cumpriu todas as exigências do Judiciário e entregou laudo de vistoria técnica feita em conjunto com CREA-RJ”. Agora, aguardam que a Justiça decida pela reabertura ou não da via. 

Mesmo com diversos blocos de concreto  postos ao longo da ciclovia, para impedir a circulação da população por ali, muita gente é vista circulando pela via. Não apenas ciclistas, mas também skatistas e praticantes de caminhada.   

Representante do movimento “Não vamos esquecer — Ciclovia”, criado após a tragédia de abril de 2016, Ana Teresa Nadruz defende que o equipamento deve permanecer fechado pelo menos até que uma grande obra estrutural seja feita. Do contrário, defende a demolição do equipamento. 

“Reabrir a ciclovia seria uma imprudência muito grande. A obra foi um acúmulo de equívocos, não apenas de segurança estrutural como também de uso da via. Além de todos os problemas estruturais, a ciclovia tem várias curvas reversas. Se um ciclista está pedalando em determinado ponto pode se chocar até com uma criança que venha do outro lado, porque as curvas impedem a visão. Outro grande problema é o fato de a ciclovia ser muito estreita”, diz. 

No início do mês, uma Comissão Parlamentar de Inquérito foi criada na Câmara de Vereadores para apurar as causas da queda da ciclovia. Presidida pelo vereador Renato Cinco (PSOL), a CPI deve ter seu relatório final apresentado em até três meses. Depois de três reuniões, esta semana, a Comissão pediu à prefeitura que siga as recomendações feitas pela Coppe/UFRJ. 

O instituto sugeriu que o município faça  estudos hidrográficos sobre a área da ciclovia e crie um sistema para monitorar a força das ondas em pontos sensíveis como o da Avenida Niemeyer. Este seria o ponto-chave para evitar um novo desabamento. 

“Nosso próximo passo será trazer à Comissão peritos criminais (que investigaram o caso), membros do Crea e o próprio Ministério Público”, disse Cinco. 

Hoje, um protesto será realizado no Mirante do Leblon, por familiares e amigos das vítimas, para lembrar a tragédia e cobrar das autoridades a punição dos culpados pelas falhas encontradas.