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Desembargadora pede desculpas por posts sobre Down e Marielle Franco

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A desembargadora Marilia de Castro Neves Vieira, que divulgou fake news sobre a vereadora Marielle Franco,  acusando-a, sem provas, de ter ligações com o crime organizado, pediu desculpas pelo post em carta. A magistrada também fez mea culpa sobre comentários direcionados ao deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) e a portadores de Síndrome de Down.

Marilia disse que Jean deveria ir para o "paredão de fuzilamento". O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) abriu inquérito para investigar o comportamento da magistrada. A magistrada também postou na internet comentários em que ridicularizava uma professora que tem Síndrome de Down, como se a docente fosse incapaz de ensinar. 

Sobre Marielle, a desembargadora publicou declaração em rede social e, criticada, excluiu o post: "A questão é que a tal Marielle não era apenas uma 'lutadora', ela estava engajada com bandidos! Foi eleita pelo Comando Vermelho e descumpriu 'compromissos' assumidos com seus apoiadores. Ela, mais do que qualquer outra pessoa 'longe da favela' sabe como são cobradas as dívidas pelos grupos entre os quais ela transacionava". 

Na reparação, disse que, depois das polêmicas, decidiu se "recolher" e que "chorou, foi abraçada e pensou muito". Afirmou também que, depois das coisas que ouviu a seu respeito, veio, da professora a quem direciona a mensagem, a lição de que "precisamos ser mais tolerantes e duvidar de pré-conceitos".

Leia a íntegra da carta da desembargadora Marilia de Castro Neves Vieira:

Prezada professora Débora,

Estou escrevendo para agradecer a carta que você me mandou e lhe dizer que suas palavras me fizeram refletir muito. Bem mais do que as centenas de ataques que recebi nas últimas semanas. Desculpe a demora na resposta mas eu precisava desse tempo.

Tenho sofrido muito desde que fui atropelada pela divulgação de comentários meus, postados em grupos privados - restritos a colegas da magistratura. Mas alguém resolveu torná-los públicos. Alguns haviam sido postados há tanto tempo que eu nem me lembrava deles. A repercussão foi imensa.

Desde então decidi me recolher. Chorei, fui abraçada e pensei muito.

E de tudo que li e ouvi a meu próprio respeito, foi de você, de quem em um primeiro momento duvidei da capacidade de ensinar, que me veio a maior lição: a de que precisamos ser mais tolerantes e duvidar de pré-conceitos.

Minhas posições pessoais jamais interferiram nas minhas decisões, conhecidas por serem técnicas e, por isso mesmo, quase sempre acompanhadas unanimemente pelos meus colegas de turma julgadora.

Hoje, contudo, percebi que, mesmo quando meu corpo despe a toga, a mesma me acompanha aonde eu for.

As opiniões pessoais de um magistrado, uma vez divulgadas, sempre terão peso, pouco importando ao Tribunal das redes sociais que tenham elas sido ditas em caráter público ou privado e que opinião não seja sentença.

Magistrados também erram e, quando o fazem, incumbe-lhes desculparem-se. Esta carta é justamente isso: um pedido de perdão.

Perdão, Débora, por ter julgado, há três anos atrás, ao ouvir de relance, no rádio do carro, uma notícia na Voz do Brasil, que uma professora portadora de Síndrome de Down seria incapaz de ensinar. Você me provou o contrário.

Aproveito o ensejo para também me desculpar à memória da vereadora Marielle Franco por ter reproduzido, sem checar a veracidade, informações que circulavam na internet. No afã de rebater insinuações, também sem provas, na rede social de um colega aposentado, de que os autores seriam policiais militares ou soldados do Exército, perdi a oportunidade de permanecer calada. Nesses tempos de fake news temos que ser cuidadosos.

Estendo esta reflexão ao deputado Jean Wyllys. Sempre me oporei às suas idéias e às do PSOL, nada mudará isso, mas é evidente que não desejo mal à ninguém.

Obrigada, Débora, por ter me ensinado tanto.

MARILIA DE CASTRO NEVES VIEIRA