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Reaberta há menos de um mês, emergência do Hospital de Bonsucesso fecha por falta de médicos

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Menos de um mês após ser inaugurada, a emergência do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) voltará a fechar as portas amanhã. A decisão, tomada pelo próprio corpo clínico com apoio do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), foi anunciada ontem. Segundo o órgão, o atendimento no setor vem sendo comprometido por conta de um déficit de 110 médicos de diversas especialidades. Hoje, a emergência atende de 80 a cem pacientes por dia, oriundos das mais diversas regiões do estado, incluindo a Baixada Fluminense e a Zona Oeste da capital.

Com custo de cerca de R$ 20 milhões — segundo dados do Cremerj —, a emergência de 3 mil metros quadrados demorou sete anos para ser construída. Nesse período, o atendimento foi feito em três contêineres. 

Segundo relatam os profissionais, o grande problema vem dos contratos de médicos temporários que não têm sido renovados. Ainda de acordo com o grupo, o Ministério da Saúde descumpre uma decisão judicial que o obriga a renovar os contratos. 

“Na semana retrasada, estivemos aqui e tínhamos apenas um clínico geral para atender 60 pessoas, uma desassistência absurda! O principal problema que nos impede de manter a emergência aberta é o déficit de pessoal. A emergência é belíssima, nova, faz inveja a vários hospitais particulares. Mas, sem médicos, de que adianta?”, denuncia, emocionado, Nelson Nahon, presidente do Cremerj, para quem “O que o governo federal está fazendo é um crime”: 

“Inaugurou uma unidade de saúde importante sem o número de profissionais necessários para atender a população. Então, seguindo a ética médica, tomamos a decisão de paralisar a emergência. Os médicos estão trabalhando sob uma pressão absurda, porque são poucos para dar conta da demanda”, afirmou Nahon.  

Apesar de o fechamento da emergência estar marcado para amanhã, durante o período de duas horas em que o “Jornal do Brasil” esteve no local, dezenas de pacientes que chegavam buscando atendimento ficaram desassistidos.  

Moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a aposentada Petrolina Gavina, 68 anos, procurou a unidade em busca de atendimento emergencial por estar com febre há três dias. Em vão. A poucos metros dela, na entrada do hospital, o taxista Maurício Campos, 42 anos, também manifestou sua indignação. Filho da dona de casa Ilma Campos, 64 anos, não conseguiu atendimento adequado à mãe: 

“Eu vim com a minha mãe da UPA de Realengo até aqui, porque lá não tinha recursos. Ao chegar aqui, um hospital de grande porte, descobrimos que a minha mãe precisa colocar um marcapasso. Mas o aparelho tá em falta. Veja só, que situação absurda. Minha mãe está sem oxigenação no cérebro, e nós ainda não sabemos o que vai ser feito. Já falaram em transferi-la para uma outra unidade. Virou uma peregrinação”, desabafou. 

O atendimento deficitário é criticado também por quem já tem parentes internados há dias. O motorista Jader Magalhães, 56 anos, imaginou dias mais tranquilos para o pai, de 81 anos e em fase terminal de câncer, quando o levou ao HFB. Ledo engano:  

“O câncer do meu pai não tem mais jeito. Agora, ele precisa, ao menos, de um fim de vida digno. Está aguardando há cinco dias, em dieta, uma cirurgia para instalação de uma sonda de gastrostomia. Não tem como ele se alimentar sem essa cirurgia. Um dia, não tinha anestesista. Depois, faltou cirurgião. Agora, meu pai já não anda mais. Vão esperar até ele morrer à míngua?”, reclamou ele que, anteontem, pediu ajuda ao Ministério Público Federal e à Defensoria Pública da União. 

Contratação emergencial 

Em nota, o Departamento de Gestão Hospitalar do HFB informou que contratou, esta semana, em caráter emergencial, quatro novos clínicos, três cirurgiões e um pediatra para atuar na emergência da unidade. “Além disso, já foram convocados para assinatura de contrato outros quatro clínicos, 12 enfermeiros, seis auxiliares de enfermagem, quatro fisioterapeutas e um técnico de patologia. São 35 novos profissionais para reforçar imediatamente o atendimento do setor”, diz o documento. O departamento também informou que aguarda a conclusão do processo para contratação de mais profissionais.