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Moradores da Vila Kennedy sentem ausência do poder público

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Ocupada por tropas do Comando Militar do Leste, que fazem parte da intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro, a Vila Kennedy teve, no último sábado, um dia de ações sociais em parceria com os governos estadual e municipal, como noticiou ontem o JB. Mas o ambiente visto anteontem contrasta com o dia a dia dos moradores, que se ressentem da falta de atenção do poder público. 

Uma das queixas é o descaso com uma unidade da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), que permanece fechada e descumpre a função de possibilitar ensino profissionalizante aos jovens da localidade. 

A estrutura do Centro de Vocação Tecnológica da Vila Kennedy, com laboratórios  e salas de aula, erguida em uma área de 1.200 metros quadrados, está pronta desde novembro de 2014. O equipamento foi projetado para atender mil alunos por ano e oferecer aulas de solda, refrigeração, informática, entre outras. Mas, mesmo com as obras concluídas, o centro de  formação técnica nunca abriu as portas para a população. 

“Demoraram um tempão pra construir e, quando a gente achou que poderia usar, trancaram a porta. A gente ainda nem sabe o que tem lá dentro. Só vive fechado”, reclama Maria José Lisboa, que vive na Vila Kennedy há 22 anos. Mãe de um adolescente de 17 anos, ela se ressente de não proporcionar um curso técnico ao filho: “Fazendo biscate, não tenho como pagar. Mas quero que ele se forme, tenha uma profissão. Se a Faetec daqui funcionasse, ia facilitar muito a nossa vida. Eu só estudei até a oitava série. Quero que meu filho tenha um futuro diferente”, deseja a alagoana.  A obra é apontada por vários moradores da estrada do Quafá, umas das principais da favela, como um grande desperdício de dinheiro público: 

“Muita gente ficou esperando a Faetec abrir e, até agora, nada”, reclama a também moradora Neidiane Silva.   

Procurada, a Faetec (subordinada à Secretaria estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Social) informou que a obra custou R$ 2,3 milhões. Segundo a Fundação, a unidade Vila Kennedy “está entre as instalações da rede que não puderam entrar em funcionamento devido à crise econômica do Estado”. O que falta para que a unidade funcione a todo vapor é a instalação de uma subestação de energia. Enquanto isso, a placa com identificação da escola profissionalizante já despencou. 

UPA ficou sem médicos

 No último sábado, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila Kennedy estava em funcionamento normal. No entanto, muitos moradores que procuravam atendimento duvidavam que a situação continuasse normalizada nos próximos dias. Não é para menos. Até a semana passada, adultos e crianças que iam até a UPA, único centro de emergência da favela, tinham que voltar para casa, sem atendimento. Antes da reabertura, nossa reportagem esteve no local e ouviu alguns moradores. Em sua maioria com conjuntivite, eles reclamavam da falta de médicos na unidade. Os pediatras, que antes atendiam ali, desapareceram. Já para socorrer os adultos, um enfermeiro fazia a triagem dos casos mais graves.

A dona de casa Mônica de Oliveira foi surpreendida ao chegar na UPA, com o filho de sete anos, sem conseguir atendimento. Segundo ela, a unidade sempre dispôs de pediatras:

 “Eu acho que meu filho está com conjuntivite, mas não quiseram atender porque disseram que não tem médico. Foi uma surpresa. Até agora, sempre tinha sido muito bem atendida nessa UPA”.

Exaltada, a auxiliar de serviços gerais Andréia da Silva, de 48 anos, cobrou explicações da equipe que encontrou na unidade. 

“Me falaram que os médicos estão em greve. Simplesmente não tem médico. E o pior é que eu preciso comprovar no trabalho que eu estou doente”, reclamou. 

Mãe de um menino de sete anos e de uma menina de 17, ambos com anemia falciforme, Marione Nascimento contou que não era só a falta de médicos que vinha afetando a UPA: “Não estão atendendo como antes não só porque está faltando médico. Também não tem funcionários fazendo a limpeza. Estão sem receber. Eu já estive aqui com meu filho com febre e não tinha um pediatra sequer”, apontou. Até reabrir normalmente, a UPA estava apenas com um clínico geral, para casos mais graves