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Homenagens a Marielle provocam detenção policial e até ofensas a padre

Em pelo menos dois episódios, na Zona Sul do Rio, houve truculência e xingamentos

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Não é apenas na internet que as reações agressivas e truculentas sobre a repercussão da morte da vereadora do PSOL Marielle Franco têm se manifestado. Em pelo menos dois episódios, no Rio, os ânimos se exaltaram e chegaram a ofensas e até detenção policial.

Nem na igreja a paz prevaleceu quando o assunto veio à tona. Durante uma missa de domingo, na Paróquia da Ressurreição, em Ipanema, o padre Mario de França Miranda, de 81 anos, chegou a ser xingado por dois homens, após o religioso citar Marielle, afirmando que a sua morte não significaria o fim de seu trabalho. O pároco começou a ser hostilizado e chamado  "padre filho da puta", conforme informou a coluna de Ancelmo Gois, no O Globo. Os dois agressores acabaram sendo retirados da igreja. O caso não foi denunciado à Polícia Civil. 

O padre José Roberto Devellard, responsável pela Paróquia da Ressurreição, comentou o caso em texto postado no Facebook. Ele não presenciou o episódio, mas disse que "o sacerdote não falou de partidos nem de ideologias". "No Evangelho João 12, 20-33 ao entrar no Espírito da Semana Santa, os versículos 24 e 25 falam do grão de trigo, que ao morrer produz frutos. O sacerdote deu vários exemplos, entre tantos o da vereadora Marielle. A homilia foi interrompida por uma pessoa da assembleia, que não gostando usou palavras de baixo calão para ofender o sacerdote, profanando assim o templo", escreveu. "O padre Mário França é um dos melhores teólogos do Brasil. Foi membro da comissão de teólogos de todo o mundo. Recebeu o prêmio Cardeal Ratzinger de teologia como bons serviços prestados à teologia. Uma preocupação assustou-me: ninguém foi capaz de levantar a voz na igreja para defender o sacerdote!"

O texto, publicado no perfil da Igreja da Ressurreição e acessível a todos, havia gerado 30 comentários até as 17h30 desta segunda-feira, 19, a maioria defendendo o padre. O primeiro deles, no entanto, é uma crítica ao sacerdote: "A igreja não deve se meter com política, ainda mais com essa onda de divisão da sociedade implantada pelo governo.... Erro do padre, erro da Igreja", escreveu um internauta. "Deveriam todos respeitar a igreja, mas não aceito o padre falar dessa senhora, quando estamos vivendo um massacre. Deveria o padre falar em nome de todos... policiais, médico morto na Lagoa etc", escreveu outra pessoa. A respeito desse comentário, um internauta alertou: "Cuidado, há um morcego entre os passarinhos!"

Bip-Bip

A truculência se repetiu no tradicional bar Bip Bip, em Copacabana, também na Zona Sul do Rio. O comerciante Alfredinho, de 74 anos, foi detido e levado para a 14ª Delegacia Policial (Leblon) após o policial rodoviário federal Haroldo Ramos de Souza, de 57 anos, questionar uma homenagem feita para Marielle Franco.

O dono do bar havia pedido um minuto de silêncio para a vereadora, quando o policial reagiu questionando por que não se fazia homenagens também aos policiais mortos. Houve uma forte discussão, o agente saiu e voltou armado, afirmando que havia sido agredido ao deixar o Bip Bip. O caso foi registrado na delegacia como lesão corporal contra o policial.